Inteligência Epistêmica

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Convivendo na MATRIX...

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Adão e Eva - a Teoria da Evolução (vídeo: O Desafio de Darwin)

Alguns teólogos tem procurado conciliar a história de Adão e Eva com a Teoria da Evolução. Teilhard de Chardin foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que logrou construir uma visão integradora entre ciência e teologia. Através de suas obras, legou-nos uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas. Muitos colegas cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carregada de um misticismo e de uma linguagem estranha à ciência. Do lado da Igreja Católica, por sua vez, foi proibido de lecionar, de publicar suas obras teológicas e submetido a um quase exílio na China. Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o conflito. O Padre Ariel Álvarez Valdez sustenta que trata-se de uma parábola composta por um catequista hebreu, a quem os estudiosos chamam de “yahvista”, escrita no século X AC, que não pretendia dar uma explicação científica sobre a origem do homem, mas sim fornecer uma interpretação religiosa, e elegeu esta narração na qual cada um dos detalhes tem uma mensagem religiosa, segundo a mentalidade daquela época. John F. Haught, filósofo americano criador do conceito de Teologia evolucionista, diz que "o retrato da vida proposto por Darwin constitui um convite para que ampliemos e aprofundemos nossa percepção do divino. A compreensão de Deus que muitos e muitas de nós adquirimos em nossa formação religiosa inicial não é grande o suficiente para incorporar a biologia e a cosmologia evolucionistas contemporâneas. Além disso, o benigno designer [projetista] divino da teologia natural tradicional não leva em consideração, como o próprio Darwin observou, os acidentes, a aleatoriedade e o patente desperdício presentes no processo da vida”, e que “Uma teologia da evolução, por outro lado, percebe todas as características perturbadoras contidas na explicação evolucionista da vida”, sobre as idéias de Richard Dawkins, Haught declara que: “A crítica da crença teísta feita por Dawkins se equipara, ponto por ponto, ao fundamentalismo que ele está tentando eliminar”. Ilia Delio, teóloga americana, sustenta que a teologia pode “tirar proveito” das aquisições de uma ciência que vê na “mutação” o núcleo essencial da matéria. Link para arquivos digitais com teorias e PROJETOS EVOLUTIVOS: http://www.4shared.com/office/5MeJ6Isd/Grafeno_Material_do_futuro.html Grafeno Material do futuro.pps [URL=http://www.4shared.com/office/5MeJ6Isd/Grafeno_Material_do_futuro.html]Grafeno Material do futuro.pps[/URL] http://www.4shared.com/office/NdRVpLLO/Proyecto_Matriz_-_Pedro_Pozas_.html Proyecto Matriz - Pedro Pozas Terrados.pps [URL=http://www.4shared.com/office/NdRVpLLO/Proyecto_Matriz_-_Pedro_Pozas_.html]Proyecto Matriz - Pedro Pozas Terrados.pps[/URL] O Rabino Nilton Bonder sustenta que: "a Bíblia não tem pretensões de ser um manual eterno da ciência, e sim da consciência. Sua grande revelação não é como funciona o Universo e a realidade, mas como se dá a interação entre criatura e Criador". Em 1858, a vida de Darwin parecia esta se desmoronando. Sua revolucionaria teoria da evolução é contestada, enquanto seus filhos estão doentes. Com a sua carreira ameaçada e sua vida pessoal em crise, é sua esposa Emma, uma pianista clássica que estudou com Chopin, que o ajuda a perceber que o que ele chamou de mistério da vida é afinal o mistério e a verdade escondida dentre milhares de anos.

A HISTÓRIA SECRETA DA RAÇA HUMANA - Michael A. Cremo e Richard L. Thompson

Em 1979, pesquisadores em Laetoli, Tanzania, em um sítio da África Oriental descobriram pegadas em depósitos de cinza vulcânica com idade superior a 3,6 milhões de anos. Mary Leakey e outros disseram que as pegadas eram indistinguíveis das humanas atuais. Para estes cientistas, isso apenas significa que os ancestrais do homem de 3,6 milhões de anos atrás tinham pés incrivelmente modernos. Mas, de acordo com outros cientistas, como o antropólogo físico R.H. Tuttle da Universidade de Chicago, ossos fósseis dos australopithecos conhecidos de 3,6 milhões de anos atrás demonstram que eles tinham pés que eram claramente próximos dos pés de um macaco. Assim, são incompatíveis com as pegadas de Laetoli. Em um artigo da edição de março de 1990 da revista ‘Natural History’, Tuttle confessou que “estamos frente a um mistério”. Parece admissível, portanto, considerar a possibilidade que nem Tuttle nem Leakey mencionaram – que criaturas com corpos humanos anatomicamente modernos, que combinassem com seus pés humanos anatomicamente modernos, existiram há 3,6 milhões de anos atrás na África Oriental. Talvez, como sugerido na ilustração da página oposta, eles coexistiram com criaturas simiescas. Intrigante como possa parecer essa possibilidade arqueológica, as idéias atuais sobre a evolução humana a proíbem. Pessoas sensatas irão alertar para a consideração da existência de humanos anatomicamente modernos há milhões de anos com base, simplesmente, nas pegadas de Laetoli. Mas há mais evidências. Durante as últimas décadas, cientistas na África descobriram ossos fósseis que parecem consideravelmente humanos. Em 1965, Bryan Patterson e W. W. Howells acharam um úmero (osso do braço) surpreendentemente moderno em Kanapoi, Kenya. Os cientistas avaliaram sua idade em 4 milhões de anos. Henry M. McHenry e Robert S. Corruccini, da Universidade da Califórnia, disseram que o úmero de Kanapoi era “dificilmente distingüível do osso de um Homo sapiens atual”. Similarmente, Richard Leakey disse que o fêmur ER 1481 do Lago Tukana, Kenya, achado em 1972, era indistingüível do de um humano moderno. Os cientistas normalmente associam o fêmur ER 1481, que tem cerca de 2 milhões de anos, ao pré-humano Homo habilis. Mas, desde que o ER 1481 foi achado isoladamente, não se pode descartar a possibilidade de que o resto do esqueleto fosse, também, anatomicamente moderno. De forma interessante, em 1913 o cientista alemão Hans Reck descobriu, em Olduvai Gorge, Tanzania, um esqueleto humano completo, anatomicamente moderno, em um estrato de mais de um milhão de anos, gerando décadas de controvérsias. Aqui, novamente, alguns nos alertarão para que não exagerarmos o valor de alguns poucos e controversos exemplos em contraste com a grande quantidade de evidências não controversas demonstrando que os humanos atuais evoluíram de criaturas simiescas bastante recentemente – por volta de 100 mil anos para cá, na África, e na visão de alguns, em outras partes do mundo também. Mas acontece que não esgotamos nossas fontes com as pegadas de Laetoli, o úmero de Kanapoi e o fêmur ER 1481. Pelos últimos oito anos, Richard Thompson e eu, com a assistência de nosso pesquisador Stephen Bernath, acumulamos um extenso corpo de evidências que desafia as teorias atuais sobre a evolução humana. Algumas dessas evidências, como as pegadas de Laetoli, são bem recentes. Mas boa parte delas foi registrada por cientistas no século dezenove e começo do século vinte. E, como você pode ver, nossa discussão sobre essas evidências podem constituir um livro muito grande. Sem mesmo olhar para esse antigo conjunto de evidências, alguns assumirão que deve haver algo errado com ele – que foi convenientemente descartado há muito pelos cientistas, por razões muito boas. Richard e eu checamos bem essa possibilidade. Concluímos, no entanto, que a qualidade dessas evidências controversas não é melhor ou pior que as supostamente não controversas, usualmente citadas em favor das atuais teorias sobre a evolução humana. Mas “Arqueologia Proibida” é mais do que um bem documentado catálogo de fatos não usuais. É, também, uma crítica sociológica, filosófica e histórica ao método científico, da forma como é aplicado à questão das origens da humanidade. Não somos sociólogos, mas nossa abordagem é similar à praticada pelos adeptos da sociologia do conhecimento científico (SSK), como Steve Woolgar, Trevor Pinch, Michael Mulkay, Harry Collins, Bruno Latour, and Michael Lynch. Cada um desses estudiosos tem uma perspectiva única da SSK, mas todos provavelmente concordariam com o seguinte enunciado programático. As conclusões dos cientistas não correspondem de forma idêntica aos estados e processos de uma realidade objetiva natural. Ao invés, tais conclusões refletem os reais processos sociais dos cientistas, mais do que o que acontece na natureza / meio ambiente. A abordagem crítica que fazemos em “Arqueologia Proibida” também assemelha-se à usada pelos filósofos da ciência, como Paul Feyerabend, que afirma que a ciência alcançou uma posição por demais privilegiada no campo intelectual, e por historiadores da ciência, como J. S. Rudwick, que explorou em detalhes a natureza da controvérsia científica. Como Rudwick, em “A Grande Controvérsia Devoniana”, usamos a narrativa para apresentarmos nosso material, que engloba não uma mas muitas controvérsias – controvérsias há muito resolvidas, não resolvidas ainda e em formação. Para isso foram feitas muitas citações de fontes primárias e secundárias, e fornecidas descrições detalhadas das reviravoltas dos complexos debates paleoantropológicos. Para os que trabalham com disciplinas relacionadas com as origens da humanidade e antigüidade, “Arqueologia Proibida” provê um bem documentado compêndio de relatórios livres das muitas referências atuais, não facilmente conseguido de outra forma. Um dos últimos autores a discutir o tipo de relatório achado em “Arqueologia Proibida” foi Marcellin Boule. Em seu livro “Fossil Men” (1957), Boule traz uma conclusão decididamente negativa. Mas, ao examinar os relatórios originais, percebemos que o ceticismo de Boule não é justificado. Em “Arqueologia Proibida”, fornecemos material oriundo de fontes primárias que irão permitir aos leitores atuais formarem suas próprias opiniões sobre as evidências que Boule desacreditou. Também introduzimos vários casos que Boule deixou de mencionar. Das evidências que colhemos, concluímos, algumas vezes em linguagem desprovida do experimentalismo ritual, que as hipóteses atualmente dominantes sobre as origens do homem necessitam de uma drástica revisão. Também concluímos que um processo de filtragem de conhecimentos deixou os estudiosos com uma coleção de fatos radicalmente prejudicada e incompleta. Antecipamos que muitos estudiosos acharão em “Arqueologia Proibida” um convite a discursos produtivos sobre (1) a natureza e tratamento das evidências no campo das origens do homem e (2) as conclusões que podem ser mais logicamente alcançadas a partir de tais evidências. No primeiro capítulo da Parte I, pesquisamos a história e o atual estado em que se encontram as idéias sobre a evolução do homem. Também discutimos alguns dos princípios epistemológicos que usamos em nosso estudo nesse campo. Principalmente, estamos interessados em duplo padrão no tratamento das evidências. Identificamos dois principais corpos de evidências. O primeiro é um conjunto controverso (A), que demonstra a existência de humanos anatomicamente modernos no ‘não muito confortável’ passado distante. O segundo é um conjunto de evidências (B) que pode ser interpretado como comportando as atuais visões dominantes de que o homem evoluiu bem recentemente, de 100 mil anos para cá, na África, e talvez em outros lugares. Também identificamos padrões empregados na avaliação das evidências paleoantropológicas. Depois de um estudo detalhado, descobrimos que se estes padrões forem aplicados igualmente para A e B, então devemos aceitar a ambos ou rejeitar a ambos. Se aceitarmos tanto A quanto B, então temos evidências colocando humanos anatomicamente modernos vivendo há milhões de anos atrás, coexistindo com humanóides simiescos. Se rejeitarmos a ambos, eliminamos a possibilidade de usarmos a base fática disponível para formularmos qualquer hipótese sobre as origens do homem e a antiguidade. Historicamente, um significativo número de cientistas profissionais já aceitou as evidências do grupo A. Mas um grupo mais influente, que aplicou padrões mais rígidos a A do que a B, estabeleceu a rejeição de A e a preservação de B como dominante. Esse uso de padrões diferenciados para a aceitação ou rejeição de evidências constitui um filtro de conhecimentos que obscurece a verdade sobre a evolução humana. No corpo da Parte I (Capítulos 2-6), checamos a vasta quantidade de evidências controversas que contradiz as idéias correntes sobre a evolução do homem. Narramos em detalhes como elas foram sistematicamente suprimidas, ignoradas ou esquecidas, mesmo sendo qualitativamente (e quantitativamente) equivalentes às atualmente aceitas. Quando falamos em supressão de evidências, não nos referimos a cientistas conspiradores levando a cabo um plano satânico para enganar o público. Ao contrário, falamos sobre a existência de um processo sociológico de filtragem de conhecimento que aparenta ser bem inócuo mas que tem, em verdade, um substancial efeito cumulativo. Certas categorias de evidências simplesmente desapareceram, em nossa opinião injustificadamente. O Capítulo 2 trata de ossos anormalmente antigos e conchas que exibem marcas e sinais de ruptura intencional. Até hoje, cientistas consideram tais ossos e conchas como uma importante categoria de evidências, e muitos sítios arqueológicos foram estabelecidos com base apenas nesse tipo de achado. Nas décadas posteriores à apresentação da teoria de Darwin, numerosos cientistas descobriram ossos animais quebrados ou com incisões, e conchas sugerindo que humanos que usavam ferramentas ou precursores dos humanos existiram no Pliosceno (2-5 milhões de anos atrás), no Miosceno (5-25 milhões de anos atrás), e até antes. Ao analisar os ossos e conchas, os descobridores cuidadosamente consideraram e estabeleceram explicações alternativas – como a ação de animais ou pressão geológica – antes de concluir que os humanos eram os responsáveis. Em alguns casos, ferramentas de pedra foram achadas juntamente com os ossos e conchas. Um exemplo particularmente impressionante nesta categoria é um concha exibindo uma rude, porém reconhecível, face humana esculpida em sua superfície externa. Registrada pelo ologista H. Stopes à Associação Britânica para o Avanço da Ciência em 1881, essa concha, de uma formação rochosa do Pliosceno, na Inglaterra, tem mais de 2 milhões de anos. De acordo com os padrões aceitos, humanos capazes de tal nível de artifício não chegaram à Europa antes de 30 ou 40 mil anos atrás. Além disso, eles nem mesmo surgiram em seu berço, a África, antes de 100.000 anos atrás. Em relação às evidências do tipo reportado por Stopes, Armand de Quatrefages escreveu em seu livro “Hommes Fossiles et Hommes Sauvages” (1884): “As objeções feitas à existência do homem no Pliosceno e Miosceno parecem ser habitualmente mais relacionadas a considerações teóricas do que à observação direta”. As mais rudimentares ferramentas de pedra, as eoliths (as pedras da aurora) são o assunto do Capítulo 3. Esses instrumentos achados em contextos geológicos inesperadamente antigos, inspiraram prolongados debates no final do século dezenove e começo do século vinte. Para alguns, as eoliths não eram sempre facilmente reconhecíveis como ferramentas. As eoliths não tinham forma simétrica. Ao contrário, a borda de uma lasca de pedra natural era quebrada para fazê-la servir para uma determinada tarefa, como raspar, cortar ou talhar. Freqüentemente a ponta ostentava sinais do uso. Os críticos disseram que as eoliths resultaram de eventos naturais, como o rolar no fundo de rios. Mas os defensores da outra tese ofereceram contra-argumentos convincentes no sentido de que as forças naturais não poderiam causar o gasto similar ao conseguido na pedra lascada – unidirecional em apenas um lado da pedra. No final do século dezenove, Benjamin Harrison, um arqueologista amador, descobriu eoliths no Platô de Kent, no sudeste da Inglaterra. Evidências geológicas sugerem que as eoliths foram produzidas em meados ou no final do Ploisceno, por volta de 2 a 4 milhões de anos atrás. Entre os que apoiavam a tese decorrente da descoberta de Harrison estavam Alfred Russell Wallace, co-fundador com Darwin da teoria da evolução pela seleção natural; Sir John Prestwich, um dos mais eminentes geologistas ingleses; e Ray E. Lankester, um diretor do Museu Britânico (História Natural). Embora Harrison tenha descoberto a maior parte de suas eoliths em depósitos superficiais de cascalho do Pliosceno, ele também descobriu muitas em níveis mais abaixo, durante uma escavação financiada e dirigida pela Associação Britânica para o Avanço da Ciência. Além das eoliths, Harrison achou, em vários lugares no Platô de Kent, ferramentas de pedra mais avançadas (paleoliths) de antigüidade plioscênica similar. No começo do século vinte, J. Reid Moir, um membro do Instituto Real de Antropologia e presidente da Sociedade de Pré-História da Anglia Oriental, descobriu eoliths (e ferramentas de pedra mais avançadas) na formação inglesa de Red Crag. As ferramentas tinham por volta de 2 a 2,5 milhões de anos. Algumas das ferramentas de Moir foram achadas nos leitos de detritos de Red Crag e poderiam ter entre 2,5 e 5,5 milhões de anos. Os achados de Moir ganharam o apoio de um dos maiores críticos das eoliths, Henri Breuil, então considerado como uma das mais proeminentes autoridades em ferramentas de pedra antigas. Outro patrocinador foi o paleontologista Henry Fairfield Osborn, do Museu Americano de História Natural de Nova Iorque. E, em 1923, uma comissão internacional de cientistas viajou até a Inglaterra para investigar as principais descobertas de Moir e as consideraram genuínas. Mas, em 1939, A. S. Barnes publicou um artigo de muita influência, no qual analisava as eoliths descobertas por Moir e outras em termos do ângulo de quebra observado. Barnes afirmava que seu método podia distinguir entre o processo de lascar feito por humanos do produzido por forças naturais. Desde então, os cientistas têm usado o método de Barnes para negar a manufatura por homens de outras ferramentas de pedra. Mas, em anos recentes, autoridades em ferramentas de pedra, como George F. Carter, Leland W. Patterson e A. L. Bryan têm contestado a metodologia de Barnes e sua aplicação. Isso sugere a necessidade de reexame das eoliths européias. Significativamente, ferramentas de pedra muito antigas, da África, como aquelas dos níveis mais baixos de Olduvai Gorge, aparentam serem idênticas às eoliths européias rejeitadas. Ainda assim, são aceitas pela comunidade científica sem questionamentos. Isso se dá, provavelmente, porque elas se encaixam e ajudam a apoiar a teoria da evolução do homem atualmente aceita. Mas outras manufaturas eolíticas de antigüidade inesperada continuam a encontrar forte oposição. Por exemplo, na década de 1950, Louis Leakey descobriu ferramentas de pedra de mais de 200 mil anos em Calico, nos sul da Califórnia. De acordo com a visão padrão, os humanos não penetraram nas regiões subárticas do Novo Mundo antes de aproximadamente 12 mil anos atrás. Os cientistas acabaram por responder à descoberta de Calico, previsivelmente, afirmando que, ou eram produto das forças naturais, ou não tinham realmente 200 mil anos. Mas há razões suficientes para se concluir que as descobertas de Calico são artefatos de produção genuinamente humana. Embora a maior parte das ferramentas fossem rudes, algumas, inclusive uma em forma de bico, eram mais avançadas. No Capítulo 4, discutimos uma categoria de implementos que chamamos de paleoliths rudes. No caso das eoliths, a parte lascada localiza-se perfeitamente na borda trabalhada de um pedaço de pedra naturalmente quebrada. Mas os fabricantes dos paleoliths rudes deliberadamente golpearam as rochas, lascando, então, os pedaços até alcançar formas reconhecíveis como ferramentas. Em alguns casos, rochas inteiras foram lascadas até formarem ferramentas. Como vimos, as paleoliths brutas são encontradas juntamente com as eoliths. Mas, nos sítios discutidos no Capítulo 4, as paleoliths são dominantes no conjunto. Na categoria das paleoliths brutas, incluímos ferramentas do Miosceno (5 a 25 milhões de anos) achadas no final do século dezenove por Carlos Ribeiro, chefe do Instituto de Pesquisa Geológica de Portugal. Em uma conferência internacional de arqueologistas e antropologistas, em Portugal, um comitê de cientistas investigou um dos sítios onde Ribeiro havia achado as ferramentas. Um dos cientistas achou um peça de pedra mais avançada que os melhores espécimes de Ribeiro. Comparável às peças aceitas como do final do Pleistoceno, do tipo Mousterian, estava firmemente encravada em conglomerado do Miosceno, em circunstâncias tais que confirmavam sua antigüidade mioscênica. Paleoliths brutas também foram achadas em formações mioscênicas em Thenay, França. S. Laing, um escritor de ciências inglês, escreveu: “Em seu conjunto, a evidência desses implementos do Miosceno parece ser bastante conclusiva, e as objeções parecem não se situarem de outra forma a não ser como simples relutância em admitir a grande antigüidade do homem”. O texto prossegue enumerando evidências da manipulação, por parte do establishment, das convicções dos homens acerca de sua própria história. Alexander Zimmer Matéria Forbidden Archeology traduzida por Leandro com trechos compilados do livro A História Secreta da Raça Humana, para o site Mistérios Antigos – Os antigos habitantes da Terra. Esta sabedoria proibida está sendo protegida e escondida de todos nós. A visão popular atual da presença humana no passado distante é uma fachada falsa. A verdadeira realidade está lá fora, mostrando prova de povos e tecnologia avançada milhões de anos antes do que é declarado sobre a evolução da humanidade no planeta. Por que o estabelecimento científico e o governo suprimiram e ignoraram estas notáveis descobertas? De onde eles vieram? Como chegaram aqui? Ao estudar a sabedoria proibida nestas páginas, uma verdade completamente nova irá emergir e se tornar evidente para você… a verdade que a terra foi visitada ou habitada por humanos modernos usando tecnologia avançada muito tempo antes do que os livros de história nos dizem hoje. A tabela ao lado apresenta a visão científica aceita da evolução neste planeta. Ela mostra os seres humanos aparecendo na terra cerca de 1.6 milhões de anos atrás, e a civilização humana tendo surgido há apenas 10 mil anos atrás. No entanto, usando métodos científicos convencionais, várias descobertas demonstram de maneira conclusiva a prova da presença ou visita de humanos modernos no passado da terra, muito antes do que esta linha cronológica indica ser possível. A prova é chocante! Ao aprofundar ainda mais no passado através das diferentes eras, você verá que as evidências continuam a aflorar… A Era Cenozóica É a última das quatro maiores eras do período geológico, iniciando cerca de 65 milhões de anos atrás, e se estendendo até o presente. Ela sucede o período Cretáceo da era Mesozóica, e é subdividida entre o período Terciário e o período Quaternário. As características dos tempos Terciários são estabelecidas em artigos sob os nomes dos vários períodos (épocas) mais curtos que compõem este período; do mais antigo ao mais recente eles são respectivamente: Paleoceno, Eoceno, Oligoceno, Mioceno, e Plioceno. A visão científica aceita da evolução na Era Cenozóica mostra os seres humanos aparecendo na Terra cerca de 1.6 milhões de anos atrás, e a civilização humana há apenas 10 mil anos atrás. No entanto, as descobertas científicas apresentadas abaixo mostram uma história bem diferente e chocante. Descobertas do período Pleistoceno Esta versão de um objeto semelhante a uma moeda, de uma perfuração de poço próxima a Lawn Ridge, Illinois, foi encontrada numa profundidade de 37 mts abaixo da superfície. De acordo com informações fornecidas pelo Serviço de Inspeção Geológica do Estado de llinois, os sedimentos nos quais a moeda estava contida possuem entre 200 mil e 400 mil anos de idade… quem deixou esta moeda centenas de milhares de anos antes do homem civilizado evoluir? Em 1913, o Professor Hans Reck, da Universidade de Berlim, conduziu investigações em Olduvai Gorge (Garganta de Olduvai), na Tanzânia, Leste da África, na época, pertencente à Alemanha. Durante sua estadia em Olduvai Gorge, Reck encontrou um esqueleto humano anatomicamente moderno que permanece uma fonte de mistério e controvérsia até hoje. Este crânio moderno é de um esqueleto humano completo encontrado naquele ano. Os restos do esqueleto humano, incluindo o crânio inteiro, estavam incrustados na rocha, e tiveram que ser removidos com martelos e talhadeiras. Ele foi encontrado na parte superior de uma formação rochosa com datação superior a 1 milhão de anos de idade. Como este humano moderno veio parar 1,000,000 de anos no passado? A Vênus de Willendorf, da Europa, datada em 30 mil anos de idade. Quem criou ou deixou este artefato quase 20 mil anos antes da civilização humana aparecer? Em 1896, trabalhadores escavando uma doca seca em Buenos Aires encontraram um crânio humano moderno. O estrato Pré-Ensenadeano no qual o crânio de Buenos Aires foi encontrado é de no mínimo 1.0 – 1.5 milhões de anos de idade. Mesmo a 1 milhão de anos, a presença de um crânio humano inteiramente moderno em qualquer parte do mundo é altamente anômala. Por que, e como este humano moderno chegou em Buenos Aires, mais de 1 milhão de anos à frente de seu tempo? Descobertas do período Plioceno Uma pequena imagem humana moldada habilidosamente em barro foi encontrada em 1889, em Nampa, Idaho. A estatueta provinha do nível de 98 mts de profundidade, numa área de escavação de poços datada da idade do Plio-Pleistoceno, cerca de 2 milhões de anos de idade. G. F. Wright comentou, “A imagem em questão é feita do mesmo material que as bolas de argila mencionadas, tendo cerca de 4 centímetros de comprimento; e é extraordinária pela perfeição com a qual representa a forma humana… Tratava-se de uma figura feminina, e tinha as feições naturais nas partes com acabamento que seriam motivo de honra para os centros clássicos de arte”. “Ao mostrar o objeto ao professor F. W. Putnam”, Wright escreveu, “ele imediatamente voltou a atenção para o caráter das incrustações de ferro sobre a superfície como sendo indicativo de uma relíquia de antiguidade considerável. Havia manchas de óxido de ferro vermelho anídrico em áreas protegidas sobre o objeto, as quais não poderiam ter se formado em algum objeto fraudulento.” Os humanos ainda não haviam evoluído neste planeta dois milhões de anos atrás. Portanto, quem criou ou deixou este artefato no passado distante da Terra? Em fins do verão de 1860, o professor Giuseppe Ragazzoni, geólogo do Instituto Técnico de Bréscia, viajou para Castenedolo, cerca de 10 quilômetros a sudeste de Bréscia, para recolher conchas fósseis nos estratos do Plioceno, expostos numa vala na base de uma colina baixa, o Colle de Vento. Aqui ele descobriu este notável crânio humano anatomicamente moderno. A camada onde ele foi encontrado foi estabelecida como sendo do período Astiano do Plioceno. De acordo com autoridades modernas, o Astiano pertence ao Plioceno Médio, o que daria ao crânio uma idade de 3 – 4 milhões de anos. Por que, e como este humano moderno visitou a Itália quase dois milhões de anos antes dos seres humanos caminharem no planeta? Em 1881, num relato transmitido à Associação Britânica para o Avanço da Ciência, H. Stopes (Membro da Sociedade Geológica) descreveu uma concha cuja superfície trazia o entalhe de um rosto tosco, mas inconfundivelmente humano. A concha entalhada foi encontrada nos depósitos estratificados de Red Crag, parte de Walton Crag, cuja datação indica ser do fim do Plioceno, entre 2 e 2,5 milhões de anos de idade. Esta descoberta colocaria seres inteligentes na Inglaterra cerca de 2.0 milhões de anos, e talvez até 2.5 milhões de anos atrás. Deve-se ter em mente que segundo a opinião paleantropológica convencional, não se deveria encontrar tais artefatos até a época do homem de Cro-Magnon inteiramente moderno, no Plioceno Superior, cerca de 30 mil anos atrás. Que visitante do passado da Terra entalhou e deixou esta concha? Descobertas do período Eoceno Na edição de abril de 1862 da The Geologist, constava uma tradução para o inglês de um intrigante relato de Maximilien Melleville, vice-presidente da Sociedade Acadêmica de Laon, França. Esta bola de giz foi descoberta num estrato de linhita do Eoceno Inferior. Com base em sua posição estatigráfica, se pode lhe atribuir uma data remontando entre 45 – 55 milhões de anos atrás. Para Melleville, não havia possibilidade da bola ser um forjamento: Ela é de fato permeada em mais de quatro quintos de sua altura por uma cor betuminosa escura, que se funde em direção ao topo num círculo amarelo, o que decerto se deve ao contato com a linhita na qual estivera tanto tempo imersa. A parte superior que estava em contato com o lençol de conchas, pelo contrário, preservou sua cor natural — o branco opaco do giz [...] Quanto à rocha em que foi encontrada, posso afirmar ser ela perfeitamente virgem, sem apresentar vestígios de qualquer exploração antiga. Extraordinário quanto possa parecer àqueles afeiçoados à visão evolutiva padrão, a evidência associada a esta descoberta sugere que, se humanos fizeram esta bola, eles deviam estar na França 45 – 55 milhões de anos atrás. Quem fez e deixou este artefato, criado pelo homem, em nosso passado longínquo anterior à evolução humana… anterior até mesmo aos mamíferos herbívoros e carnívoros caminharem pelo planeta? Em 1877, o Sr. J. H. Neale era superintendente da Montezuma Tunnel Company, e supervisionava o túnel Montezuma, que dava no cascalho subjacente à lava de Table Mountain, no condado de Tuolumne. A uma distância entre 460 e 490 mts da boca do túnel, ou entre 65 e 98 mts além da margem da lava sólida, o Sr. Neale viu diversas pontas de lança de uma espécie de rocha escura, e com cerca de 30 cms de comprimento. Continuando com a exploração, ele próprio encontrou um pequeno gral de 8 ou 10 cms de diâmetro e de formato irregular. Isso foi descoberto a uma distância de 30 ou 60 cms das pontas de lança. Em seguida, ele encontrou uma grande e bem delineada mão de almofariz e próxima de um gral grande e bem regular. Todas estas relíquias foram encontradas na mesma tarde, próxima ao leito de rocha a uma distância de 70 cms umas das outras. O Sr. Neale declara ser totalmente impossível que estas relíquias possam ter chegado à posição em que foram encontradas de outro modo, excetuando-se à época em que o cascalho sedimentou-se e antes da formação do lençol de lava. Não havia o menor vestígio de qualquer perturbação da massa ou de qualquer fissura natural nela cujo acesso pudesse ter sido obtido ou por ali, ou pela vizinhança. A posição dos artefatos no cascalho próximo ao leito de rocha em Tuolumne, Table Mountain, indica que eles tinham de 33 a 55 milhões de anos de idade. Mamíferos herbívoros e carnívoros ainda não tinham nem evoluído no planeta nessa época. Então, quem trouxe e deixaram estes artefatos na Califórnia quase 50 milhões de anos atrás? Esta pedra de estilingue é da camada inferior de detritos de Red Crag, em Bramford, Inglaterra. No mínimo, da idade do Plioceno, a pedra tem ao menos 5 milhões, e possivelmente até 50 milhões de anos de idade. Sob a análise era óbvio que a pedra havia sido esculpida pela mão do homem. A superfície inteira foi raspada com uma pederneira, de tal modo que ela foi coberta por uma série de facetas que correm de maneira bem regular de ponta a ponta. A raspagem descrita acima cobre a superfície inteira do objeto e penetra nas suas irregularidades. Permanece que o objeto é inteiramente artificial no entanto, deixado numa época milhões de anos antes dos humanos sequer terem evoluído na Terra. A Era Mesozóica Ao voltarmos no tempo, entramos num período da Era Mesozóica que começou com o surgimento dos primeiros dinossauros na terra, e terminando com o desenvolvimento das plantas com flores. Os humanos não apareceriam por pelo menos outros 136 milhões de anos. No entanto, as descobertas científicas apresentadas abaixo sugerem que civilizações estavam visitando o passado da Terra e caminhando numa época em que os dinossauros andavam pelo planeta. Descobertas do período Cretáceo Y. Druet e H. Salfati anunciaram em 1968 a descoberta de tubos metálicos semi-ovóides, de formatos idênticos, mas tamanhos diferentes, no calcário Cretáceo. O leito calcário, exposto numa escavação em Saint-Jean de Livet, na França, é avaliado como tendo pelo menos 65 milhões de anos de idade. Tendo considerado e eliminado várias hipóteses, Druet e Salfati concluíram que seres inteligentes viveram 65 milhões de anos atrás. Quem trouxe e deixou estes tubos metálicos na França mais de 65 milhões de anos antes do aparecimento do primeiro ser humano? Descobertas do período Triássico Em 8out1922, o caderno American Weekly do jornal New York Sunday American publicou um artigo de destaque intitulado “Mistério da ‘sola de sapato’ petrificada”, pelo Dr. W. H. Ballou. Ballou escreveu: Algum tempo atrás, enquanto explorava fósseis em Nevada, John T. Reid, destacado engenheiro de minas e geólogo, parou de repente e olhou para baixo em total perplexidade e espanto para uma rocha perto de seus pés. Pois ali, numa parte da própria rocha, estava o que parecia ser uma pegada humana! Uma inspeção mais rigorosa mostrou que aquela não era a marca de um pé nu, mas que era, aparentemente, uma sola de sapato que se transformara em pedra. A parte dianteira estava faltando. Mas havia o delineamento de pelo menos dois terços dela, e em volta deste delineamento passava um fio costurado e bem definido que tinha segundo parecia, colado o debrum à sola. A seguir havia outra linha de costura e, no centro, onde teria pousado o pé se o objeto tivesse sido mesmo uma sola de sapato, havia uma reentrância, exatamente como teria sido feita pelo osso do calcanhar esfregando e desgastando o material com que a sola havia sido feita. Reid entrou em contato com um microfotógrafo e um químico analítico do Instituto Rockefeller, que tirou fotos e fez análises do espécime. As análises eliminaram quaisquer dúvidas quanto ao fato da sola de sapato ter estado sujeita à fossilização Triássica. As ampliações microfotográficas são vinte vezes maiores do que o próprio espécime, mostrando os mais diminutos detalhes da torção e urdidura do fio, e provando, de forma conclusiva, que a sola de sapato não é uma semelhança, mas estritamente o trabalho manual do homem. Mesmo a olho nu, podem ser vistos distintamente os fios e os delineamentos de perfeita simetria da sola de sapato. Dentro desta borda e em sentido paralelo a ela, está uma linha que parece ser regularmente perfurada como que por pontos. A rocha Triássica portadora da sola de sapato fóssil é hoje reconhecida como sendo datada em 213 a 248 milhões de anos de idade. Um sapato obviamente moderno, completo com costura, e gravado no tempo numa rocha Triássica antiga. Que visitante moderno estava caminhando em nosso passado distante mais de 210 milhões de anos atrás antes da época dos dinossauros? A Era Paleozóica Ao aprofundarmos no tempo, entramos num período da Era Paleozóica em que a vida estava evoluindo de formas primitivas, flutuadores errantes multicelulares no oceano, para grupos avançados em terra. As formas mais avançadas no final deste período eram anfíbios, insetos, florestas de pteridófitas, e pequenos répteis. Os humanos não surgiriam por aproximadamente outros 300 milhões de anos. No entanto, as descobertas científicas abaixo sugerem novamente de forma mais acentuada que humanos modernos com tecnologia avançada estavam visitando o passado da Terra e andando numa época em que as primeiras formas de vida começavam a aparecer no nosso planeta. Descobertas do período Carbonífero Cordão de Ouro na Inglaterra, entre 320 – 360 milhões de anos de idade. Em 22jun1844, esta curiosa notícia foi publicada no London Times: “Poucos dias atrás, enquanto alguns operários trabalhavam para extrair uma rocha próxima ao Tweed, cerca de 400 mts abaixo do moinho de Rutherford, foi descoberto um cordão de ouro incrustado na pedra a uma profundidade de 2,4 mts.” O Dr. A. W. Medd, do Instituto Britânico de Pesquisas Geológicas, escreveu em 1985 que esta pedra é da era do Carbonífero Primitivo, com idade entre 320 e 360 milhões de anos. Quem deixou cair este cordão de ouro nas antigas florestas pteridófitas, num passado distante quando as formas mais avançadas de vida no planeta eram anfíbios e insetos? Corrente de Ouro de Morrisonville, Illinois, 260 – 320 milhões de anos de idade. Em 11jun1891, o The Morrisonville Times noticiou: “Uma curiosa descoberta foi trazida à luz na última terça-feira de manhã pela Sra. S. W. Culp. Enquanto quebrava um pedaço de carvão para colocá-lo num balde, ela descobriu, ao despedaçar o carvão, uma pequena corrente de ouro, incrustada em forma circular, com cerca de 25 centímetros de comprimento, de artesanato antigo e singular. A princípio, a Sra. Culp pensou que a corrente tinha caído por acaso no carvão, mas, ao tentar erguê-la, a idéia dela ter caído ali recentemente se tornou de imediato falaciosa, pois, quando o pedaço de carvão se quebrou, ele separou-se quase que na metade, e a posição circular da corrente colocou as duas extremidades próximas uma da outra, e quando o carvão se separou, o meio da corrente afrouxou-se enquanto cada extremidade permaneceu presa ao carvão. O pedaço de carvão do qual foi extraída esta corrente provém provavelmente das minas Taylorville ou Pana (sul de lllinois), e quase tira o fôlego pelo mistério de se pensar por quantas longas eras a terra vem formando estratos após estratos que ocultaram da visão as correntes douradas. A corrente era de ouro de 8 quilates e pesava 9 gramas.” Segundo o Instituto de Pesquisas Geológicas do Estado de Illinois, o carvão em que foi encontrada a corrente de ouro tem de 260 a 320 milhões de anos. Isto levanta a possibilidade de seres humanos culturalmente avançados terem estado presentes ou visitando a América do Norte durante aquela época. Como esta corrente de ouro veio parar no passado distante da Terra mais de um quarto de bilhão de anos antes dos humanos terem surgido? Pedra Entalhada perto de Webster, Iowa, 260 – 320 milhões de anos de idade. A edição de 2abr1897 do Daily News de Omaha, Nebraska, trazia um artigo intitulado “Pedra Entalhada Enterrada em Mina”, que descrevia um objeto de uma mina perto de Webster City, Iowa. O artigo declarava: “Hoje, enquanto extraía carvão na mina de carvão de Lehigh, a uma profundidade de 42 mts, um dos mineiros deparou com um pedaço de rocha que o intrigou, não sendo ele capaz de explicar a presença dela no fundo da mina.” A pedra é de cor cinza escura e tem cerca de 60 cms de comprimento, 30 cms de largura e 10 centímetros de espessura. Sobre a superfície da pedra, que é muito dura, existem linhas desenhadas em ângulos que formam diamantes perfeitos. O centro de cada diamante é um rosto bem feito de um homem velho com uma reentrância peculiar na testa, que aparece em cada uma das imagens, todos sendo extraordinariamente parecidos. Dos rostos, todos, exceto dois, estão olhando para a direita. Quem entalhou e deixou esta pedra no passado distante da terra? Xícara de Ferro da Mina de Carvão em Oklahoma, 312 milhões de anos de idade. Em 27nov1948 o seguinte comentário foi feito por Frank J. Kenwood, em Sulphur Springs, Arkansas. “Enquanto eu trabalhava na Estação Elétrica Municipal em Thomas, Oklahoma, em 1912, deparei com um naco sólido de carvão que era grande demais para ser usado. Quebrei-o com uma marreta. Esta peça de ferro caiu do centro, deixando a impressão do seu molde no pedaço de carvão. Stall (um empregado da companhia) testemunhou a quebra do carvão e viu a xícara cair. Eu investiguei a fonte do carvão e descobri ser ele oriundo das Minas Wilburton, em Oklahoma”. Segundo Robert O. Fay, do Instituto de Pesquisas Geológicas de Oklahoma, a mina de carvão Wilburton tem cerca de 312 milhões de anos. Que civilização avançada ou visitante estava criando ou usando potes de ferro em nosso passado, mais de 300 milhões de anos atrás? Parede de Blocos numa Mina em Oklahoma, pelo menos 286 milhões de anos de idade. W. W. McCormick, de Abilene, Texas, registrou o relato de seu avô de uma parede de blocos de pedra que foi encontrada no fundo de uma mina de carvão: No ano de 1928, eu, Atlas Almon Mathis, trabalhava na mina de carvão número 5, localizada a 3 Km ao norte de Heavener, Oklahoma. Esta era uma mina de poço, e nos disseram que ela tinha 3 Km de profundidade. A mina era tão profunda que descíamos nela de elevador … Bombeavam ar para nós lá embaixo, de tão profunda que ela era. Certa noite, Mathis estava dinamitando carvão com explosivos no “recinto 24″ desta mina. “Na manhã seguinte”, disse Mathis, “havia diversos blocos de concreto estirados no recinto. Estes blocos eram cubos de 30 cms e eram tão lisos e polidos por fora que todos os seis lados podiam ser usados como espelhos. Todavia, estavam cheios de cascalho, porque lasquei um deles com minha picareta e era concreto maciço por dentro.” Mathis acrescentou: “Quando eu começava a colocar vigas de madeira no recinto, ele desmoronou, e eu escapei por pouco. Quando regressei após o desmoronamento, vi que ficara exposta uma parede sólida desses blocos polidos. Cerca de 90 a 140 mts mais abaixo do nosso núcleo de ar, outro mineiro deparou com esta mesma parede, ou outra muito parecida.” O carvão na mina era do Carbonífero, o que significaria que a parede tinha pelo menos 286 milhões de anos de idade. Segundo Mathis, os funcionários da empresa de mineração imediatamente tiraram os homens da mina e proibiram eles de falar sobre o que haviam visto. Mathis disse que os mineiros de Wilburton também contaram sobre a descoberta de “um bloco sólido de prata na forma de um barril com as marcas das aduelas nele” numa área do carvão datada entre 280 e 320 milhões de anos atrás. Que civilização avançada construiu esta parede?… Por que a verdade, como em tantos outros casos, foi protegida e escondida? Qual a verdade sobre a presença de visitantes humanos modernos e tecnologia moderna em nosso passado? Hieróglifos numa Mina de Carvão em Ohio, 260 milhões de anos de idade. Foi relatado que James Parsons e seus dois filhos exumaram uma parede de ardósia numa mina de carvão em Hammondville, Ohio, em 1868. Era uma parede grande e lisa, revelada quando uma grande massa de carvão destacou-se dela, e em sua superfície, entalhadas em alto-relevo, havia diversas linhas de hieróglifos. Quem entalhou estes hieróglifos mais de 250 milhões de anos antes dos humanos caminharem pela terra? Descobertas do período Devoniano Prego em Arenito Devoniano, entre 360 e 408 milhões de anos de idade. Em 1844, Sir David Brewster relatou a descoberta de um prego firmemente incrustado num bloco de arenito da Pedreira Kingoodie (Mylnfield), na Escócia. O Dr. A. W. Medd, do Instituto Britânico de Pesquisas Geológicas, indicou recentemente que este arenito é da “idade Inferior do Antigo Arenito Vermelho” (Devoniano, entre 360 e 408 milhões de anos de idade). Em seu relatório à Associação Britânica para o Avanço da Ciência, Brewster declarou: “O bloco em particular no qual o prego foi encontrado tinha 23 cms de espessura, e no processo de preparar o bloco bruto para polimento, a ponta do prego foi encontrada projetando-se cerca de 1,5 cms (bastante corroída pela ferrugem) para dentro do ’till’ (argila depositada por geleiras), e o restante do prego jazendo ao longo da superfície da pedra numa extensão de 2,5 cms até a cabeça, que penetrava o corpo da pedra.” O fato da cabeça do prego estar enterrada no bloco de arenito pareceria descartar a possibilidade do prego ter sido martelado no bloco após este ter sido extraído. Esta era uma época em que os anfíbios e insetos eram as únicas formas de vida dominantes no nosso planeta. Então quem derrubou este prego que acabou sendo preservado em pedra numa época há mais de 350 milhões de anos antes dos humanos aparecerem? Descobertas do período Cambriano Em 1968, William J. Meister, desenhista e colecionador amador de trilobita, registrou a descoberta de uma impressão de sapato em Wheeler Shale, perto de Antelope Spring, Utah. Esta reentrância em forma de sapato e seu feitio foram revelados quando Meister abriu um bloco de argila xistosa. Claramente visíveis dentro da impressão, estavam os restos de trilobitas, artrópodes marinhos extintos. A argila xistosa portadora da impressão e dos fósseis de trilobita é do Período Cambriano, e deste modo, teria de 505 a 590 milhões de anos de idade. Meister descreveu a antiga impressão em forma de sapato num artigo publicado na Creation Research Society Quarterly: A impressão do calcanhar estava afundada na rocha cerca de um quarto de centímetro a mais do que a sola. A pegada era nitidamente aquela do pé direito, porque a sandália estava bem gasta do lado direito do calcanhar de forma característica. Nesta época da história do nosso planeta não havia planta ou vida animal em terra, mesmo os mais antigos tipos de peixes nadando nos oceanos não haviam evoluído. Deve ter sido uma paisagem estéril que este visitante do passado viu ao caminhar pela terra. Como ele chegou numa época tão distante do nosso passado? Descobertas do período Pré-Cambriano Vaso Metálico em Rocha Pré-Cambriana, mais de 600 milhões de anos de idade. O seguinte relatório, intitulado “Relíquia de uma Era Antiga”, foi publicado na revista Scientific American (5jun1852): Poucos dias atrás, foi dinamitada a rocha em Meeting House Hill, em Dorchester, uns 15 mts ao sul da casa de reuniões do Reverendo Hall. A explosão lançou uma imensa massa de rocha, com alguns dos pedaços pesando algumas toneladas, e espalhou fragmentos em todas as direções. Entre esses fragmentos foi encontrado um vaso metálico em duas partes, separadas pela explosão. Ao juntar as duas partes, formou-se um vaso campanular, com 12,7 cms de altura, 17,7 cms na base, 7,6 cms no topo, e cerca de 0,3 cms de espessura. O corpo deste vaso tem cor parecida com a do zinco, ou de um metal composto, havendo nele uma considerável porção de prata. Na lateral há seis figuras de uma flor, ou buquê, com uma bela decoração em pura prata, e contornando a parte inferior do vaso há uma vinha, ou grinalda, também com decoração em prata. A gravação, o entalhe, e a decoração, são feitos com o requinte da arte de algum hábil artesão. Este vaso curioso e desconhecido foi extraído pela dinamitação da massa sólida de pedra, 4,5 mts abaixo da superfície. Segundo um recente mapa norte-americano de levantamento geológico da área de Boston-Dorchester, a massa de pedra, hoje chamada o conglomerado de Roxbury, é de idade Pré-cambriana, com mais de 600 milhões de anos. Pelos relatos convencionais, a vida apenas começava a se formar neste planeta durante o Pré-Cambriano. Contudo, a julgar pelo vaso de Dorchester, temos evidência indicando a presença de artesãos em metal na América do Norte mais de 600 milhões de anos antes de Leif Erikson. Nesta época da história do nosso planeta não havia vida em terra, vegetal ou animal. As formas de vida mais avançadas nesta época estéril da história do nosso planeta eram algas simples, flutuando nos oceanos. No entanto, de algum modo esta bela peça de arte foi trazida e deixada para trás, e finalmente enterrada e preservada na rocha antiga. Nas últimas décadas, mineiros sul-africanos encontraram centenas de esferas metálicas, e pelo menos uma delas tem três sulcos paralelos girando em torno de seu equador. As esferas são de dois tipos ¬ “uma de metal sólido azulado com manchas brancas, e outra que é uma bola oca recheada com um centro esponjoso branco”. Roelf Marx, curador do museu de Klerksdorp, África do Sul, onde estão guardadas algumas das esferas, disse: “As esferas são um mistério completo. Elas parecem feitas pelo homem, todavia, na época da história da Terra em que vieram descansar nesta rocha, não existia vida inteligente. Os globos são encontrados em pirofilita, que é extraída perto da pequena cidade de Ottosdal, no Transvaal Ocidental. Esta pirofilita é um mineral secundário bastante macio, com uma contagem de apenas três na escala de Mohs, e foi formada por sedimentação cerca de 2,8 bilhões de anos atrás. Porém, os globos são muito duros e não podem ser arranhados, nem sequer com aço”. A esfera com os três sulcos paralelos a contornando são perfeitos demais para serem qualquer outra coisa senão feitos pelo homem. O depósito mineral Pré-cambriano onde os globos foram encontrados é datado em pelo menos 2.8 bilhões de anos de idade. Nesta época, células microscópicas simples eram as únicas coisas vivas na terra – mas isto obviamente não é verdade. Quem criou ou deixou para trás estas esferas magníficas? Obviamente feitas pelo homem, e mais resistentes do que aço. Qual era a finalidade delas para as pessoas que visitaram e deixaram elas perdidas no tempo? Nas últimas décadas, mineiros sul-africanos encontraram centenas de esferas metálicas, e pelo menos uma delas tem três sulcos paralelos girando em torno de seu equador. As esferas são de dois tipos “uma de metal sólido azulado com manchas brancas, e outra que é uma bola oca recheada com um centro esponjoso branco”. Roelf Marx, curador do museu de Klerksdorp, África do Sul, onde estão guardadas algumas das esferas, disse: “As esferas são um mistério completo. Elas parecem feitas pelo homem, todavia, na época da história da Terra em que vieram descansar nesta rocha, não existia vida inteligente. Os globos são encontrados em pirofilita, que é extraída perto da pequena cidade de Ottosdal, no Transvaal Ocidental. Esta pirofilita é um mineral secundário bastante macio, com uma contagem de apenas três na escala de Mohs, e foi formada por sedimentação cerca de 2,8 bilhões de anos atrás. Porém, os globos são muito duros e não podem ser arranhados, nem sequer com aço”. A esfera com os três sulcos paralelos a contornando são perfeitos demais para serem qualquer outra coisa senão feitos pelo homem. O depósito mineral Pré-cambriano onde os globos foram encontrados é datado em pelo menos 2.8 bilhões de anos de idade. Nesta época, células microscópicas simples eram as únicas coisas vivas na terra – mas isto obviamente não é verdade. Quem criou ou deixou para trás estas esferas magníficas? Obviamente feitas pelo homem, e mais resistentes do que aço. Qual era a finalidade delas para as pessoas que visitaram e deixaram elas perdidas no tempo? Esse é um trecho de uma entrevista com os autores: Michael A. Cremo e Richard L. Thompson sobre um importante livro lançado por eles, cujo titulo é: A História Secreta da Raça Human ou “Arqueologia proibida”. Lançado em 2004 pela editora ALEPH. Site oficial do livro: http://www.mcremo.com/ No livro os dois autores mostram centenas de evidencias que provam que a história arqueológica da vida na Terra (em especial a humana) é completamente diferentes daquilo que é ensinado nas escolas. Eles dizem que os ideologicamente motivados procuram encobrir a verdade das evidências em nome de uma teoria preferida, no caso a Teoria da Evolução de Darwin/Wallace. Mas as evidencias arqueológicas contestam fortemente as premissas da Teoria evolutiva Darwiniana. Se as evidências na natureza fossem levadas em consideração, certamente a Teoria da Evolução nem teria saído do papel, são centenas as provas contra essa Teoria. Mas por mero capricho ideológico, os cientistas procuram mentir e manipular os achados arqueológicos para que estes não venham a contestar a Teoria da Evolução. A Teoria da evolução é a base da fé religiosa dos materialistas (sinônimo de Darwinistas, Ateístas, Naturalistas, reducionistas), se ela cair, então a fé deles não terá razão de ser. Por isso eles não medem conseqüências na defesa dessa tosca teoria, então mentem, matam, distorcem os dados, etc… tudo para que sua religião continue sendo ensinada como “verdade” nas escolas.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Isaak Yudovich Ozimov Petrovichi (Isaac Asimov) - Mas afinal, o que é inteligência?

Quando eu estava no exército, fiz um teste de aptidão, solicitado a todos os soldados, e consegui 160 pontos. A média era 100. Ninguém na base tinha visto uma nota dessas e durante duas horas eu fui o assunto principal...(Não significou nada – no dia seguinte eu ainda era um soldado raso da KP – Kitchen Police) Durante toda minha vida consegui notas como essa, o que sempre me deu uma ideia de que eu era realmente muito inteligente. E eu imaginava que as outras pessoas também achavam isso. Porém, na verdade, será que essas notas não significam apenas que eu sou muito bom para responder um tipo específico de perguntas acadêmicas, consideradas pertinentes pelas pessoas que formularam esses testes de inteligência, e que provavelmente têm uma habilidade intelectual parecida com a minha? Por exemplo, eu conhecia um mecânico que jamais conseguiria passar em um teste desses, acho que não chegaria a fazer 80 pontos. Portanto, sempre me considerei muito mais inteligente que ele. Mas, quando acontecia alguma coisa com o meu carro e eu precisava de alguém para dar um jeito rápido, era ele que eu procurava. Observava como ele investigava a situação enquanto fazia seus pronunciamentos sábios e profundos, como se fossem oráculos divinos. No fim, ele sempre consertava meu carro. Então imagine se esses testes de inteligência fossem preparados pelo meu mecânico. Ou por um carpinteiro, ou um fazendeiro, ou qualquer outro que não fosse um acadêmico. Em qualquer desses testes eu comprovaria minha total ignorância e estupidez. Na verdade, seria mesmo considerado um ignorante, um estúpido. Em um mundo onde eu não pudesse me valer do meu treinamento acadêmico ou do meu talento com as palavras e tivesse que fazer algum trabalho com as minhas mãos ou desembaraçar alguma coisa complicada eu me daria muito mal. A minha inteligência, portanto, não é algo absoluto mas sim algo imposto como tal, por uma pequena parcela da sociedade em que vivo. Vamos considerar o meu mecânico, mais uma vez. Ele adorava contar piadas. Certa vez ele levantou sua cabeça por cima do capô do meu carro e me perguntou: Doutor, um surdo-mudo entrou numa loja de construção para comprar uns pregos. Ele colocou dois dedos no balcão como se estivesse segurando um prego invisível e com a outra mão, imitou umas marteladas. O balconista trouxe então um martelo. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro negativamente e apontou para os dedos no balcão. Dessa vez o balconista trouxe vários pregos, ele escolheu o tamanho que queria e foi embora. O cliente seguinte era um cego. Ele queria comprar uma tesoura. Como o senhor acha que ele fez? Eu levantei minha mão e “cortei o ar” com dois dedos, como uma tesoura. “Mas você é muito burro mesmo! Ele simplesmente abriu a boca e usou a voz para pedir” Enquanto meu mecânico gargalhava, ele ainda falou: - Tô fazendo essa pegadinha com todos os clientes hoje. - E muitos caíram? - perguntei esperançoso. - Alguns. Mas com você eu tinha certeza absoluta que ia funcionar. - Ah é? Por quê? - Porque você tem muito estudo, doutor, sabia que não seria muito esperto. E algo dentro de mim dizia que ele tinha alguma razão nisso tudo. tradução livre do original - What is inteligence, anyway? Nasceu em 2jan1920 - 6abr1992, escritor e bioquímico americano, nascido na Rússia, autor de obras de ficção científica e divulgação científica. A obra mais famosa de Asimov é a série da Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com sua outra grande série dos Robots. Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de não-ficção. No total, escreveu ou editou mais de 500 volumes, aproximadamente 90 mil cartas ou postais, e tem obras em cada categoria importante do sistema de classificação bibliográfica de Dewey, exceto em filosofia. Asimov foi reconhecido como mestre do gênero da ficção científica e, junto com Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, foi considerado em vida como um dos "Três Grandes" escritores da ficção científica. Asimov foi membro e vice-presidente por muito tempo da Mensa, ainda que com falta: ele os descrevia como "intelectualmente combalidos". Exercia, com mais frequência e assiduidade, a presidência da American Humanist Association (Associação Humanista Americana). Em 1981, um asteroide recebeu seu nome em sua homenagem, o 5020 Asimov. O robô humanóide "ASIMO" da Honda, também pode ser considerada uma homenagem indireta a Asimov, pois o nome do robô significa, em inglês, Advanced Step in Innovative Mobility, além de também significar, em japonês, "também com pernas" (ashi mo), em um trocadilho linguístico em relação à propriedade inovadora de movimentação deste robô. No livro Escolha a Catástrofe, Asimov disserta sobre os futuros problemas que poderiam levar a humanidade à extinção e como a tecnologia poderia salvá-la. Em certa parte do livro, ele fala sobre a educação e como ela poderia funcionar no futuro. Haverá uma tendência para centralizar informações, de modo que uma requisição de determinados itens pode usufruir dos recursos de todas as bibliotecas de uma região, ou de uma nação e, quem sabe, do mundo. Finalmente, haverá o equivalente de uma Biblioteca Computada Global, na qual todo o conhecimento da humanidade será armazenado e de onde qualquer item desse total poderá ser retirado por requisição. …Certamente, cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e, possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria, simultaneamente, um professor e um aprendiz. — Isaac Asimov - 1979

António Damásio - A Origem da Consciência Humana

No campus da Universidade de Iowa, Estados Unidos, o neurologista português António Damásio gasta boa parte do tempo tentando compreender uma das áreas mais nebulosas do conhecimento: a consciência humana. É difícil encontrar um desafio mais instigante para um cientista, diz Damásio. Afinal, o que poderia ser mais fascinante do que conhecer o modo como conhecemos? Em seus dois livros, O Erro de Descartes e O Mistério da Consciência (editados no Brasil pela Companhia das Letras), Damásio descreve como a consciência abriu caminho para uma verdadeira revolução na natureza, tornando possível o surgimento da religião, da moral, da organização social e política, das artes, da ciência e da tecnologia. Ele tenta encontrar as respostas para as questões mais antigas da filosofia pesquisando o que há de mais novo no conhecimento do cérebro. Depois da polêmica em torno da clonagem humana, ele prevê que os debates mais fervorosos da ciência estarão ligados à possibilidade de manipularmos nossas emoções por meio de uma melhor compreensão da mente. Qual a origem da consciência humana? A consciência é fruto da necessidade básica de nos mantermos vivos. É claro que, na natureza, existe uma série de organismos simples que vivem de uma forma basicamente automática. Desde que mantenham cuidados básicos, como evitar perigos e adquirir a energia por meio dos alimentos, a vida desses organismos pode ser preservada. Os seres humanos são mais complexos: além de precisarem manter a vida de uma forma simples, eles têm que se adaptar a um ambiente cheio de dificuldades para obter energia e se expõem a inúmeros perigos e oportunidades. Nesse ambiente que não é apenas físico, mas também cultural, precisamos de um sistema complexo de imaginação, criatividade e planejamento. A consciência surge dessa necessidade. Existe uma primeira forma de consciência? Uma forma de consciência inicial aparece quando o homem sente que ele é um ser em si mesmo. É difícil encontrar uma palavra, em português, para definir o processo. Chamo essa consciência de self. É ela que faz que não sejamos um robô, uma máquina manipulável. Podemos guiar a imaginação e conduzir a criatividade por meio dessa consciência. Para compreendermos o que é a dor, o sofrimento, e também o prazer das outras pessoas, precisamos antes ter uma idéia de quem somos. E a consciência self é fundamental para que possamos respeitar os outros. Como o estudo da consciência pode melhorar a vida das pessoas? Grande parte do sofrimento humano é causado por conflitos das pessoas consigo mesmas. Quando conhecemos mais a natureza biológica do homem, encaramos esses problemas com outro olhar. Se conhecemos os mecanismos que acionam a ansiedade, a tristeza e a alegria, podemos entender melhor como cada pessoa é e evitar certos problemas. Pense nos conflitos religiosos, políticos e de grupos sociais. É claro que há bases econômicas para eles mas acredito que a compreensão das emoções pode ajudar a mudar a maneira pela qual as pessoas tentam resolver essas disputas. Entender a tendência para a violência, para a competição ou o funcionamento do medo é fundamental para o autocontrole. Posso soar otimista, mas acredito que, quando admitirmos que nossa razão é influenciada por essas emoções, o mundo poderá tornar-se melhor. A compreensão detalhada da consciência não pode nos tornar mais céticos ao descobrirmos, por exemplo, que há, no cérebro, uma região responsável pelo amor ou outra pela fé? Mesmo que venhamos a compreender a mente com mais profundidade, será muito difícil desvendar mistérios como a origem do universo ou o que faz com que nos apaixonemos por outra pessoa. É possível que nunca cheguemos a desvendar essas questões talvez nosso cérebro não tenha capacidade para compreender certos enigmas... Como a crença em Deus... Exatamente. Acho improvável que a neurociência consiga, um dia, apresentar razões para que as pessoas tenham ou deixem de ter fé numa inteligência superior. Elas podem até deixar de acreditar em milagres. Mas a ciência não tem como concluir que o Criador existe ou deixa de existir. A fé e a origem do universo não são problemas científicos passageiros. Mesmo assim, o conhecimento da mente pode mudar a forma como nos relacionamos com a vida. As pessoas tendem a aceitar a morte em função da complexidade do universo. Acho que deveria ser o contrário: constatando como a vida é frágil, podemos dar mais importância a ela e trabalhar para que seja a melhor possível enquanto dure. A cada ano surgem um novo antidepressivo e drogas que provocam emoções artificiais. Você acredita que, no futuro, teremos uma droga que possa acabar com as emoções ruins? Acho que sim. É uma questão importante, que precisaremos discutir cada vez mais. Imagine uma superpopulação tomando Prozac diariamente. Esse grupo de pessoas alteraria um sistema natural e poderia causar diversos problemas é claro que alguns problemas seriam resolvidos, mas as conseqüências da proliferação dessa medicação poderiam levar à ruína de uma sociedade. Tem que haver mais investigação sobre como essas drogas serão usadas. É claro que as pessoas deprimidas devem ser tratadas, mas pode ser um erro tomar o medicamento apenas para inibir a timidez e impulsionar a vida social. A ciência precisa trazer mais informações para que esses temas não sejam discutidos pela simples opinião ou intuição de algumas pessoas. Chegaremos, um dia, a manipular tão bem as áreas do cérebro que poderemos reproduzir com uma pílula a sensação de voar ou de passear numa montanha russa? É bem provável que isso seja possível. E, sem dúvida, para a sociedade esse será um assunto tão polêmico quanto o da clonagem genética. Vamos ter que decidir o que deve e não deve ser permitido exatamente como na regulamentação da indústria do cinema e da televisão. Há um ponto em que tanto a criação artística quanto a científica precisam ser filtradas pela sociedade. Mas não podemos deixar que um burocrata decida isso. Quanto mais informações forem divulgadas no futuro, inclusive por meio desta revista, mais condições a sociedade terá para tomar suas decisões. Que outro tipo de realidade virtual poderá ser criada, no futuro, manipulando o cérebro? Prefiro não especular, tudo ainda não passa de teoria. O estudo da consciência humana é um campo da ciência à espera de um novo Newton? O problema da consciência é um tema complexo, que tem sido mal abordado. É evidente que é necessário avançar muito mais. Acho que meu livro O Mistério da Consciência traz alguns avanços importantes sobre o assunto, mas não devemos ter a ingenuidade de acreditar que tudo está resolvido. Há imensos problemas à espera de mais investigação e trabalho. Nos próximos dez ou 20 anos, talvez seja possível resolver boa parte deles. Como escrever sobre assuntos tão complexos para o público leigo? Os temas sobre os quais escrevo são importantes demais para ficarem restritos aos cientistas. Escrever sobre o pâncreas ou o fígado pode ser atraente apenas para os médicos, mas o público tem interesse quando falamos da mente, do pensamento, da emoção e do sentimento. É fantástico o retorno que tenho recebido dos leitores dos meus livros em todo o mundo. Interessados em arte, literatura e cinema dizem que essa pesquisa os ajuda a compreender melhor o que fazem nas suas próprias áreas. Fonte: Revista SuperInteressante

Johanna (Hannah) Arendt

Nascida em Linden-Limmer, hoje bairro de Hanôver, Alemanha, 14out1906 – Nova Iorque, Estados Unidos, 4dez1975, filosofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. A privação de direitos e perseguição na Alemanha de pessoas de origem judaica a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na decidir emigrar. O regime nazista retirou a nacionalidade dela em 1937, o que lhe tornou apátrida até conseguir a nacionalidade estadunidense em 1951. Trabalhou, entre outras atividades, como jornalista e professora universitária e publicou obras importantes sobre filosofia política. Contudo, rechaçava ser classificada como "filosofa" e também se distanciava do termo "filosofia política"; preferia que suas publicações fossem classificadas dentro da "teoria política". Arendt defendia um conceito de "pluralismo" no âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade política seria gerado entre as pessoas. Importante é a perspectiva da inclusão do Outro. Em acordos políticos, convênios e leis, devem trabalhar em níveis práticos pessoas adequadas e dispostas. Como frutos desses pensamentos, Arendt se situava de forma crítica ante a democracia representativa e preferia um sistema de conselhos ou formas de democracia direta. Entretanto, ela continua sendo estudada como filosofa, em grande parte devido a suas discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Immanuel Kant, Martin Heidegger e Karl Jaspers, além de representantes importantes da filosofia moderna como Maquiavel e Montesquieu. Justamente graças ao seu pensamento independente, a teoria do totalitarismo (Theorie der totalen Herrschaft, seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos. Como fontes de suas investigações Arendt usa, além de documentos filosóficos, políticos e históricos, biografias e obras literárias. Esses textos são interpretados de forma literal e confrontados com o pensamento de Arendt. Seu sistema de análise - parcialmente influenciado por Heidegger - a converte em uma pensadora original situada entre diferentes campos de conhecimento e especialidades universitárias. O seu devenir pessoal e o de seu pensamento mostram um importante grau de coincidência. Arendt nasceu em 1906 no seio de uma família de judeus secularizados, perto de Hanôver. Seus antepassados vieram de Königsberg, na Prússia (a cidade atual russa de Kaliningrado), para onde voltaram seu pai, o engenheiro Paul Arendt, que sofria de sífilis, sua mãe Martha (de nome de solteira Cohn) e ela, quando Hannah tinha somente três anos. Depois da morte de seu pai, em 1913, foi educada de forma bastante liberal por sua mãe, que tinha tendências social-democratas. Nos círculos intelectuais de Königsberg nos quais se criou, a educação das meninas era algo que certamente ocorria. Através de seus avós, conheceu o judaísmo reformado. Não pertencia a nenhuma comunidade religiosa, mas sempre se considerou judia, inclusive participando do movimento sionista. Aos 14 anos, já havia lido a Crítica da razão pura de Kant. Na biografia de Heidegger, R. Safranski afirma porém que Arendt havia lido a obra citada de Kant aos 17 (cf. Um mestre da Alemanha. Martin Heidegger e o seu tempo. Barcelona, Tusquets, 1997 {ISBN 84-8310-032-0}, p. 170)e a Psicologia das concepções do mundo de Jaspers. Aos 17 anos teve de abandonar a escola por problemas disciplinares, indo então sozinha a Berlim, onde, sem haver concluído sua formação, teve aulas de teologia cristã e estudou pela primeira vez a obra de Søren Kierkegaard. De volta a Königsberg em 1924, foi aprovada no exame de maturidade(Abitur). Em 1924, começou seus estudos na universidade de Marburg e durante um ano assistiu às aulas de filosofia de Martin Heidegger e de Nicolai Hartmann, e as de teologia protestante de Rudolf Bultmann, além de grego. Heidegger, pai de família de 35 anos, e Arendt, estudante 17 anos mais jovem que ele, foram amantes, ainda que tivessem de manter em segredo a relação por causa das aparências. No começo de 1926, ela não aguentava mais a situação e decidi trocar de universidade, indo para a universidade Albert Ludwig de Freiburg, para aprender com Edmund Husserl. Ela também estudou filosofia na universidade de Heidelberg e se formou em 1928 sob a tutoria de Karl Jaspers, com a tese O conceito de amor em Santo Agostinho. A amizade com Jaspers duraria até a morte do filósofo. Arendt havia levado uma vida muito recatada em Marburg como consequência do segredo de sua relação com Heidegger; mantinha amizade apenas com outros alunos, como Hans Jonas, e com seus amigos de Königsberg. Em Heidelberg, ampliou seu círculo de amigos, a que pertenceram Karl Frankenstein, que em 1928 apresentou uma dissertação histórico-filosófica, Erich Neumann, seguidor de Jung e Erwin Loewenson, um ensaísta expressionista. Jonas também se mudou para Heidelberg e realizou alguns trabalhos sobre Santo Agostinho. Outro círculo de amigos se abriu graças a sua amizade com Benno von Wiese e seus estudos com Friedrich Gundolf, que lhe havia recomendado Jaspers. Sua amizade com Kurt Blumenfeld, diretor e porta-voz do movimento sionista alemão, cujos estudos tratavam a chamada questão judaica e a assimilação cultural também foi importante. Hannah Arendt agradeceu-lhe em uma carta de 1951 o seu próprio entendimento da situação dos judeus. Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt foi proibida de escrever uma segunda dissertação que lhe daria o acesso ao ensino nas universidades alemãs por causa da sua condição de judia. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich - o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha e passou por Praga e Genebra antes de se mudar para Paris, onde trabalhou pelos 6 anos seguintes com crianças judias expatriadas e conheceu e tornou-se amiga do crítico literário e filósofo marxista Walter Benjamin. Foi presa (uma segunda vez) na França conjuntamente com o marido, o operário e "marxista crítico" Heinrich Blutcher, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry. Trabalhou nos Estados Unidos em diversas editoras e organizações judaicas, tendo escrito para o "Weekly Aufba". Em 1963 é contratada como professora da Universidade de Chicago onde ensina até 1967, ano em que se muda para Nova York e passa a lecionar na New School of Social Research, instituição onde se manterá até à sua morte em 1975. O trabalho filosófico de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher. O primeiro livro "As origens do totalitarismo"(1951) consolida o seu prestígio como uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Arendt assemelha de forma polêmica o nazismo e o stalinismo, como ideologias totalitárias, isto é, com uma explicação compreensiva da sociedade mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder. Hitler e Stalin seriam duas faces da mesma moeda tendo alcançado o poder por terem explorado a solidão organizada das massas. Sete anos depois publica "A condição humana", obra onde adota a clássica tripartição grega e enfatiza a importância da política como ação e como processo, dirigida à conquista da liberdade: Com a expressão 'vita ativa', pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. (...) O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...). A condição humana do labor é a própria vida. O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana (...). O trabalho produz um mundo "artificial" de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. A condição humana do trabalho é a mundanidade. A ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente 'a' condição (...) de toda a vida política. Publica depois "Sobre a Revolução" (1963), talvez o seu maior tributo para o pensamento liberal contemporâneo, e examina a revolução francesa e a revolução americana, mostrando o que têm de comum e de diferente, e defendendo que a preservação da liberdade só é possível se as instituições pós-revolucionárias interiorizarem e mantiverem vivas as idéias revolucionárias. Lembraria os seus concidadãos americanos (entretanto adquiriria a nacionalidade americana) que se distanciassem dos ideais que tinham inspirado a revolução americana perderiam o seu sentido de pertencer e identidade. Ainda, em 1963, escreveria "Eichmann em Jerusalém" a partir da cobertura jornalística que faria do julgamento do exterminador dos judeus e arquiteto da Solução Final para a The New Yorker. Nesse livro impressionante revela que o grande exterminador dos judeus não era um demônio e um poço de maldade (como o criam os ativistas judeus) mas alguem terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou de ter mesmo contrição. Esta perspectiva valer-lhe-ia a crítica virulenta das organizações judaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt apontara, apenas, para a complexidade da natureza humana, para uma certa "Banalidade do Mal" que surge quando se compadece com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal. Daí conclui que é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade. Arendt regressaria depois à Alemanha e manteria contato com o seu antigo mentor Martin Heidegger, que se encontrava afastado do ensino, depois da libertação da Alemanha, dadas as suas simpatias nazis. Envolver-se-ia, pessoalmente, na reabilitação do filósofo alemão, o que lhe valeria novas críticas das associações judaicas americanas. Do relacionamento secreto entre ambos ao longo de décadas (inclusive no exílio nos Estados Unidos) seria publicado um livro marcante, "Lettres et autres documents", 1925-1975, Hannah Arendt, Martin Heidegger, com edição alemã e tradução francesa da responsabilidade das Editions Gallimard. Arendt está sepultada em Bard College, Annandale-on-Hudson.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Pitágoras de Samos

Pitágoras de Samos foi um filósofo e matemático grego que nasceu em Samos entre cerca do ano 570 a.C. e 571 a.C. e morreu em Metaponto entre cerca do ano 496 a. C. ou 497 a.C. A sua biografia está envolta em lendas. Diz-se que o nome significa altar da Pítia ou o que foi anunciado pela Pítia, pois mãe ao consultar a pitonisa soube que a criança seria um ser excepcional. Pitágoras foi o fundador de uma escola de pensamento grega denominada em sua homenagem de pitagórica. Da vida de Pitágoras quase nada pode ser afirmado com certeza, já que ele foi objeto de uma série de relatos tardios e fantasiosos, como referentes às viagens e aos contatos com as culturas orientais. Parece certo, contudo, que o Filósofo e matemático grego nasceu no ano de 580 a.C. na cidade de Samos, fundou uma escola mística e filosófica em Crotona (colônia grega na península itálica), cujos princípios foram determinantes para evolução geral da matemática e da filosofia ocidental cujo principais enfoques eram: harmonia matemática, doutrina dos números e dualismo cósmico essencial. Aliás, Pitágoras foi o criador da palavra "filósofo". Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números - para eles o número (sinônimo de harmonia) era considerado como essência das coisas - é constituído então da soma de pares e ímpares, noções opostas (limitado e ilimitado) respectivamente números pares e ímpares expressando as relações que se encontram em permanente processo de mutação, criando a teoria da harmonia das esferas (o cosmos é regido por relações matemáticas). A observação dos astros sugeriu-lhes a idéia de que uma ordem domina o universo. Evidências disso estariam no dia e noite, no alterar-se das estações e no movimento circular e perfeito das estrelas, por isso o mundo poderia ser chamado de cosmos, termo que contem as idéias de ordem, de correspondência e de beleza. Nessa cosmovisão também concluíram que a terra é esférica, estrela entre as estrelas que se movem ao redor de um fogo central. Alguns pitagóricos chegaram até a falar da rotação da Terra sobre o eixo, mas a maior descoberta de Pitágoras ou dos discípulos (já que há obscuridades que cerca o pitagorismo devido ao caráter esotérico e secreto da escola) deu-se no domínio da geometria e se refere às relações entre os lados do triângulo retângulo. A descoberta foi enunciada no teorema de Pitágoras. Foi expulso de Crotona e passou a morar em Metaponto, onde morreu provavelmente em 497 a. C. ou 496 a.C.

A escola de Pitágoras

Segundo o pitagorismo, a essência, que é o princípio fundamental que forma todas as coisas é o número. Os pitagóricos não distinguem forma, lei, e substância, considerando o número o elo entre estes elementos. Para esta escola existiam quatro elementos: terra, água, ar e fogo.

Assim, Pitágoras e os pitagóricos investigaram as relações matemáticas e descobriram vários fundamentos da física e da matemática.

O símbolo utilizado pela escola era o pentagrama, que, como descobriu Pitágoras, possui algumas propriedades interessantes. Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; pelas intersecções dos segmentos desta diagonal, é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original exatamente pela razão áurea.

A proporção áurea ou número de ouro ou número áureo ou ainda proporção dourada é uma constante real algébrica irracional denotada pela letra grega (phi) e com o valor arredondado a três casas decimais de 1,618. É um número que há muito tempo é empregado na arte. Também é chamada de: razão áurea, razão de ouro, divina proporção, proporção em extrema razão, divisão de extrema razão.

É freqüente a sua utilização em pinturas renascentistas, como as do mestre Giotto. Este número está envolvido com a natureza do crescimento. Phi (não confundir com o número Pi (π), quociente da divisão do comprimento de uma circunferência pela medida do seu respectivo diâmetro), como é chamado o número de ouro, pode ser encontrado na proporção em conchas (o nautilus, por exemplo), seres humanos (o tamanho das falanges, ossos dos dedos, por exemplo), até na relação dos machos e fêmeas de qualquer colméia do mundo, e em inúmeros outros exemplos que envolvem a ordem do crescimento. Justamente por estar envolvido no crescimento, este número se torna tão freqüente. E justamente por haver essa freqüência, o número de ouro ganhou um status de "quase mágico", sendo alvo de pesquisadores, artistas e escritores. Apesar desse status, o número de ouro é apenas o que é devido aos contextos em que está inserido: está envolvido em crescimentos biológicos, por exemplo. O fato de ser encontrado através de desenvolvimento matemático é que o torna fascinante. Como é um número extraído da seqüência de Fibonacci, o número áureo representa diretamente uma constante de crescimento. O número áureo é aproximado pela divisão do enésimo termo da Série de Fibonacci (1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89,..., na qual cada número é a soma dos dois números imediatamente anteriores na própria série) pelo termo anterior. Essa divisão converge para o número áureo conforme tomamos n cada vez maior.

Pitágoras descobriu em que proporções uma corda deve ser dividida para a obtenção das notas musicais no início, sem altura definida, sendo uma tomada como fundamental (pensemos numa longa corda presa a duas extremidades que, quando tangida, nos dará o som mais grave - e a partir dela, gerar-se-á a quinta e terça através da reverberação harmônica. Os sons harmônicos. Prendendo-se a metade da corda, depois a terça parte e depois a quinta parte conseguiremos os intervalos de quinta e terça em relação à fundamental. A chamada SÉRIE HARMÔNICA. À medida que subdividimos a corda obtemos sons mais altos e os interevalos serão diferentes. E assim sucessivamente. Descobriu ainda que frações simples das notas, tocadas juntamente com a nota original, produzem sons agradáveis. Já as frações mais complicadas, tocadas com a nota original, produzem sons desagradáveis.

O nome está ligado principalmente ao importante teorema que afirma: Em todo triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Além disto, os pitagóricos acreditavam na esfericidade da Terra e dos corpos celestes, e na rotação da Terra, com o que explicavam a alternância de dias e noites. A filosofia baseou uma doutrina chamada Filosofia explanatória Cristo-Pitagorica.

A escola pitagórica era conectada com concepções esotéricas e a moral pitagórica enfatizava o conceito de harmonia, práticas ascéticas e defendia a metempsicose.
Durante o século IV a.C., verificou-se, no mundo grego, uma revivescência da vida religiosa. Segundo alguns historiadores, um dos factores que concorreram para esse fenômeno foi a linha política adotada pelos tiranos: para garantir o papel de líderes populares e para enfraquecer a antiga aristocracia, os tiranos favoreciam a expansão de cultos populares ou estrangeiros.

Dentre estes cultos, um teve enorme difusão: o Orfismo (de Orfeu), originário da Trácia, e que era uma religião essencialmente esotérica. Os seguidores desta doutrina acreditavam na imortalidade da alma, ou seja, enquanto o corpo se degenerava, a alma migrava para outro corpo, por várias vezes, a fim de efetivar a purificação. Dioniso guiaria este ciclo de reencarnações, podendo ajudar o homem a libertar-se dele.

Pitágoras seguia uma doutrina diferente. Teria chegado à concepção de que todas as coisas são números e o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço basicamente intelectual. A purificação resultaria de um trabalho intelectual, que descobre a estrutura numérica das coisas e torna, assim, a alma como uma unidade harmônica. Os números não seriam, neste caso, os símbolos, mas os valores das grandezas, ou seja, o mundo não seria composto dos números 0, 1, 2, etc., mas dos valores que eles exprimem. Assim, portanto, uma coisa manifestaria externamente a estrutura numérica, sendo esta coisa o que é por causa deste valor.
Além de grandes místicos, os pitagóricos eram grandes matemáticos. Eles descobriram propriedades interessantes e curiosas sobre os números. Os pitagóricos estudaram e demonstraram várias propriedades dos números figurados.

Entre estes o mais importante era o número triangular 10, chamado pelos pitagóricos de tetraktys. Este número era visto como um número místico uma vez que continha os quatro elementos fogo, água, ar e terra: 10=1 + 2 + 3 + 4.

A soma dos divisores de determinado número com exceção dele mesmo, é o próprio número. Exemplos:
Os divisores de 6 são: 1,2,3 e 6. Então, 1 + 2 + 3 = 6.
Os divisores de 28 são: 1,2,4,7,14 e 28. Então, 1 + 2 + 4 + 7 + 14 = 28.
Um problema não solucionado na época de Pitágoras era determinar as relações entre os lados de um triângulo retângulo. Pitágoras provou que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

O primeiro número irracional a ser descoberto foi a raiz quadrada do número 2, que surgiu exatamente da aplicação do teorema de Pitágoras em um triângulo de catetos valendo 1:

Os gregos não conheciam o símbolo da raiz quadrada e diziam simplesmente: "o número que multiplicado por si mesmo é 2". A partir da descoberta da raiz de 2 foram descobertos muitos outros números irracionais.

A palavra Matemática (Mathematike, em grego) surgiu com Pitágoras, que foi o primeiro a concebê-la como um sistema de pensamento, fulcrado em provas dedutivas. Existem, no entanto, indícios de que o chamado Teorema de Pitágoras (c²= a²+b²) já era conhecido dos babilônios em 1600 a.C. com escopo empírico. Estes usavam sistemas de notação sexagesimal na medida do tempo (1h=60min) e na medida dos ângulos (60º, 120º, 180º, 240º, 360º).

Pitágoras (560(?) – 500(?) a.C.) nasceu na Ásia Menor, na ilha de Samos. Percorreu por 30 anos o Egito, Babilônia, Síria, Fenícia e quiçá Índia e Pérsia, onde acumulou ecléticos conhecimentos: astronomia, matemática, ciência, filosofia, misticismo e religião. É oportuno lembrar a contemporaneidade com Tales, Buda, Confúcio e Lao-Tsé. Retornando a Samos, indispôs-se com o tirano Polícrates e emigrou para o sul da Itália, na ilha de Crotona, de dominação grega. Aí fundou a Escola Pitagórica, a quem se concede a glória de ser a "primeira Universidade do mundo".

A Escola Pitagórica e as atividades se viram desde então envoltas por um véu de lendas. Foi uma entidade parcialmente secreta com centenas de alunos que compunham uma irmandade religiosa e intelectual. Entre os conceitos que defendiam, destacam-se: prática de rituais de purificação e crença na doutrina da metempsicose, isto é, na transmigração da alma após a morte, de um corpo para outro. Portanto, advogavam a reencarnação e a imortalidade da alma; lealdade entre os membros e distribuição comunitária dos bens materiais; austeridade, ascetismo e obediência à hierarquia da Escola; proibição de beber vinho e comer carne (portanto é falsa a informação que os discípulos tivessem mandado matar 100 bois quando da demonstração do denominado Teorema de Pitágoras. A palavra hecatombe que significa mortandade ou carnificina, deve a etimologia ao grego: sacrifício de 100 bois); purificação da mente pelo estudo de Geometria, Aritmética, Música e Astronomia; classificação aritmética dos números em pares, ímpares, primos e fatoráveis; "criação de um modelo de definições, axiomas, teoremas e provas, segundo o qual a estrutura intrincada da Geometria é obtida de um pequeno número de afirmações explicitamente feitas e da ação de um raciocínio dedutivo rigoroso" (George Simmons); grande celeuma instalou-se entre os discípulos de Pitágoras a respeito da irracionalidade do 'raiz de 2'. Utilizando notação algébrica, os pitagóricos não aceitavam qualquer solução numérica para x² = 2, pois só admitiam números racionais.

Dada a conotação mística atribuída aos números, comenta-se que, quando o infeliz Hipasus de Metapontum propôs uma solução para o impasse, os outros discípulos o expulsaram da Escola e o afogaram no mar; na Astronomia, idéias inovadoras, embora nem sempre verdadeiras: a Terra é esférica, os planetas movem-se em diferentes velocidades nas várias órbitas ao redor da Terra. Pela cuidadosa observação dos astros, cristalizou-se a idéia de que há uma ordem que domina o Universo; aos pitagóricos deve-se provavelmente a construção do cubo, tetraedro, octaedro, dodecaedro e a bem conhecida "seção áurea"; na Música, uma descoberta notável de que os intervalos musicais se colocam de modo que admitem expressões através de proporções aritméticas:

Pitágoras é o primeiro matemático puro. Entretanto é difícil separar o histórico do lendário, uma vez que deve ser considerado uma figura imprecisa historicamente, já que tudo o que dele sabemos deve-se à tradição oral. Nada deixou escrito, e os primeiros trabalhos sobre o mesmo deve-se a Filolau, quase 100 anos após a morte de Pitágoras. Mas não é fácil negar aos pitagóricos - assevera Carl Boyer - "o papel primordial para o estabelecimento da Matemática como disciplina racional". A despeito de algum exagero, há séculos cunhou-se uma frase: "Se não houvesse o 'teorema Pitágoras', não existiria a Geometria".

Ao biografar Pitágoras, Jâmblico (c. 300 d.C.) registra que o mestre vivia repetindo aos discípulos: “todas as coisas se assemelham aos números”. A Escola Pitagórica ensejou forte influência na poderosa verve de Euclides, Arquimedes e Platão, na antiga era cristã, na Idade Média, na Renascença e até em nossos dias com o Neopitagorismo.

Pensamentos de Pitágoras

Educai as crianças e não será preciso punir os homens.
Não é livre quem não obteve domínio sobre si.
Pensem o que quiserem de ti; faz aquilo que te parece justo.
O que fala semeia; o que escuta recolhe.
Ajuda teus semelhantes a levantar a carga, mas não a carregues.
Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem.
Todas as coisas são números.
A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus.
A Evolução é a Lei da Vida, o Número é a Lei do Universo, a Unidade é a Lei de Deus.
A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se.
A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se filósofos.

Importância para o Direito

Pitágoras foi o primeiro filósofo a criar uma definição que quantificava o objetivo final do Direito: a Justiça. Ele definiu que um ato justo seria a chamada "justiça aritmética", na qual cada indivíduo deveria receber uma punição ou ganho quantitativamente igual ao ato cometido. Tal argumento foi refutado por Aristóteles, pois ele acreditava em uma justiça geométrica, na qual cada indivíduo receberia uma punição ou ganho qualitativamente, ou proporcionalmente, ao ato cometido; ou seja, ser desigual para com os desiguais a fim de que estes sejam igualados com o resto da sociedade.

Bibliografia
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. 2ª Ed., Porto Alegre: Edipucrs, 2003
Pitágoras de Samos, um dos "sete sábios da Grécia", foi filósofo e matemático, moralista e fundador no sul da Itália de uma comunidade religiosa, denominada por isso mesmo pitagórica, ou simplesmente escola itálica. Ainda que não tenha deixado escritos, sua doutrina se transferiu oralmente ao que o seguiram. Fosse através da comunidade que fundou, fosse através dos escritos criados neste contexto, Pitágoras influenciou toda a antiguidade, inclusive ao cristianismo e ainda hoje continua a inspirar algumas organizações sociais de cunho místico. Cidade Natal | Mestres de Pitágoras | Criação da Comunidade Pitagórica de Crotona | Morte de Pitágoras Vida - A biografia de Pitágoras contém episódios lendários, os quais todavia confirmam haver sido pessoa tida em alto apreço e influência. Figura Pitágoras entre os filósofos pré-socráticos sobre os quais Diógenes Laércio, do séc. III a.e.c., mais vastamente informou. Entretanto, as fontes biográficas próximas ao tempo do mesmo Pitágoras são poucas e parcas nas informações. Este fato parece dizer que os episódios de sua vida vieram crescendo no curso dos séculos, como facilmente acontece com os líderes religiosos. Platão citou a "Pitágoras", pelo seu nome, apenas uma vez (Resp. VII. 530 b), e aos "pitagóricos" também somente uma vez (Resp. VII. 530 b). Todavia Platão foi diretamente influenciado pelo pitagorismo. Contatou aos mesmos pitagóricos. As estes citou pelos seus nomes pessoais, como dialogantes em seu livro Fédon. Também citou pelos nomes pessoais aos discípulos do pitagórico Filolau (Fédon, 61). Aristóteles somente menciona aos "pitagóricos" (Met., 985b 20), em vez de "Pitágoras". Os informes doxográficos crescem somente com os autores tardios, situados já ao tempo da era cristã, quando o pitagorismo já assumia as novas formas do neopitagorismo e mesmo do neoplatonismo, num contexto moral e religioso, típico do período helênico-romano. Datam deste tempo tardio Apolônio de Thyana e Nicômaco de Gerasa, - estes neopitagóricos, sobre os quais logo se apoiarão Diógenes Laércio (VII, 1-50), Porfirio (Vivo de Pitagoro), Jâmblico (Vida de Pitágoras). As aproximações entre pitagorismo e cristianismo, bem como oposições, fizeram com que algumas informações sobre o referido pitagorismo fossem dados por autores cristãos. Cidade Natal - Três são as versões sobre o lugar de nascimento. Aceita-se como mais verossímil a versão de que Pitágoras teria nascido em Samos, uma ilha grega do mar Egeu, junto à costa da Jônia. Embora a Jônia continental esteja integrada hoje à Turquia, permanece contudo a Ilha de Samos como território grego, De acordo com outro informe, Pitágoras teria nascido em uma Ilha do Mar Tirreno, portanto à Ocidente da Itália. Provavelmente, se trata de uma confusão com a região onde efetivamente viveu. Ainda de acordo com terceiros, Pitágoras teria sido um bárbaro procedente de Tiro, ou mesmo da Síria. Neste caso teria vindo depois para Samos e finalmente para a Itália. A possibilidade dispersiva do lugar de nascimento coere com a circunstância de haver Pitágoras vivido quando os persas conquistaram a Ásia Menor. Desde então aumentou a possibilidade de movimentação das pessoas no vasto mundo oriental, além de a tendência de reemigração dos gregos para o Ocidente. Mais um desencontro, no que transmitiram os informantes de Pitágoras, ocorre ao dizer-se, ora que fora filho de Nesarco, ora de Mármaco. Mais comum é dizer-se que fora filho de Nesarco. "Segundo Hermipo, Pitágoras, filho de Nesarco, gravurista de selos, era de Samos. Contrariamente, Aristóxeno afirma, que era de Tirreno e que nascera em uma das ilhas que os atenienses conquistaram pela expulsão da população anterior. Outros o fazem filho de Mármaco, por sua vez filho de Hípaso, neto de Eutifro e bisneto de Cleônimo, exilado de Flionte (cidade do Peloponeso, segundo Plinio). Diz-se que Mármaco morou em Samos e que por isso Pitágoras tomou o apelido de Samosano" (D. Laércio, VIII, 1). "Pitágoras, filho de Nesarco, era de Samos, disse Hipóboto. De acordo com Aristóxeno, em sua Vida de Pitágoras, Aristóteles e Teopompo, ele era de Tiro. Em resumo, a maioria via a Pitágoras como um bárbaro" (Clemente de Alexandria, Strômata, I, 62). O tempo em que viveu Pitágoras, ainda que não seja conhecido em detalhes, é todavia suficientemente determinável, como tendo sido aquele em que viveu Xenófanes de Colófon 570 – 475 a.e.c. ligado à escola de Elea. Possivelmente Pitágoras nasceu entre os anos 580 e 570 a.e.c. Com referência à morte de Pitágoras, uns a colocam pelos anos 500 e 496 a.e.c. Outros a situam um pouco mais tarde, atribuindo-lhe a mesma longa vida de Xenófanes. Conhece-se uma citação de Heráclito, referindo-se ironicamente a Pitágoras e a Xenófanes, como anteriores a ele mesmo: "Muito saber não ensina a ser inteligente. Isto não ajudou a Hesíodo, Pitágoras, Xenófanes e Hecateo" (Heráclito, Frag. 40, em D. L., IX,1). Ora, Heráclito, o primeiro filósofo da escola jônica nova, floresceu na 69ª Olimpíada 504-501 a.e.c. (D. L., IX,3). Isto representa meio século depois da morte de Tales de Mileto. Dentro deste raciocínio, Pitágoras e Xenófanes viveu e floresceu entre Tales e Heráclito. "Diz Heráclito filho de Serapion, que Pitágoras morreu aos 80 anos, conforme o cálculo que ele havia feito sobre as idades da vida. Contudo a opinião mais generalizada é a de que atingiu 90 anos" (D. L, VIII, 44). Estes informes coerem mais ou menos com os demais episódios citados na mesma biografia de Pitágoras. Por exemplo, foi contemporâneo de Polícrates, tirano em Samos de 537 a 522 a.e.c. e do Faraó Amasis 570-526 a.e.c. Mestres de Pitágoras - Aparentemente, Pitágoras pertenceu a uma rica família de comerciantes gregos. Nesta condição pôde facilmente viajar, contatando homens de saber e mesmo aprender por obra da observação sobre os costumes e doutrinas vigentes em outras regiões, sobretudo do Oriente. O informe de Diógenes Laércio, dizendo que Pitágoras é filho de Mármaco, acrescenta "que indo ele à Lesbos [capital Mitilene], seu tio Zojlo o recomendou à Ferécides". Pouco adiante complementa: "Ele teve como mestre, Ferécides de Siros, indo depois da morte deste para Samos, para ouvir a Hermodamos, neto de Cléofilo, então já idoso" (D. L., VII, 2). Como se sabe Ferécides de Siros é um personagem importante do pensamento órfico iraniano que então penetrava no Ocidente, e haveria de generalizadamente influenciar a filosofia e as religiões. Muito viajou Pitágoras. Até seu tempo a passagem de um país para outro era difícil. Com o crescimento do comércio marítimo, mas sobretudo com o domínio persa, tornaram-se mais fáceis as viagens. Em consequência também se transpuseram costumes e crenças. Pitágoras se tornou um destes transportadores de mentalidade, havendo introduzido no Ocidente particularidades trazidas do Oriente, com destaque os mistérios, ou suas novas formas, em que se destacam os ritos de purificação. Com referência ao Egito, que desde tempo se enfraquecera politicamente, passou a depender de apoiamentos externos, e que em parte lhe eram dados pelos gregos. O Faraó Psametico (rei de 657-617 a.e.c.) conseguiu a unidade sobre todo o Egito com o apoio dos piratas cários e jônicos então arremessados por uma tempestade contra as bordas do delta do Nilo. A mesma política de amizade com os gregos durou sob o Faraó Nécao II 610-595 a.e.c., com vistas à concorrência comercial com a frota fenícia. Situação especial ocorreu no tempo do Faraó Amasis 570-526 a.e.c., que prosperou em paz com Ciro, o grande rei da Pérsia, que então conquistou Babilônia. Foi então que o enfraquecido faraó permitiu aos gregos estabelecer a cidade de Náucratis no delta do Nilo. De outra parte, no Mar Egeu cresceu a frota de Samos, controlando o comércio desde os Balcãs até a Ásia Menor, sob o governo de Polícrates, tirano desde 537 até 522 a.e.c. No quadro desta conjuntura internacional favorável, pôde certamente Pitágoras viajar em todas as direções, portanto ir ao Egito e mesmo ir às distantes regiões dos sábios caldeus e aos magos da Pérsia. As condições de viagem não mudaram muito, quando depois Cambises, rei da Pérsia, vencerá ao faraó Psametico III, em 525 a.e.c., anexando o Egito e a Ásia Menor, inclusive as cidades gregas da Jônia e a Ilha de Samos. Sem barreiras políticas, o vasto reino persa favoreceu a movimentação dos sábios. Esta foi a razão que permitiu a Heródoto 484-425 a.e.c. deixar em 464 a.e.c. sua cidade de Halicarnasso, para viajar primeiramente pela Grécia européia e depois, no quadro do reino persa, viajar também para Babilônia e para o Egito, tendo como resultado as descrições, que se podem ler em livro por ele redigido, de nome História. Com referência à Pitágoras, viajou para o Egito no tempo de Polícrates e do faraó Amasis; portanto, entre 537 e 526 a.e.c., quando este último morreu. "Jovem e desejando instruir-se, ele deixou a pátria para ser iniciado nos mistérios dos gregos e dos bárbaros. Ele embarcou para o Egito com carta de recomendação de Polícrates a Amasis. Diz Antifon, no tratado Sobre los homens famosos por causa de suas virtudes, que ele aprendeu a língua egípcia e que se comunicou com os caldeus e os magos. Dali passou para Creta, onde ele entrou com Epimênides na gruta de Ida [construção em honra de Zeus]. Entrou nos oráculos dos santuários do Egito e estudou os segredos da religião nos livros sagrados" (D. Laércio, VIII, 3). "Em Vida de Pitágoras informa Jâmblico, que Pitágoras viajou à Creta, não somente para ser iniciado sobre os ritos, como diz Diógenes Laércio, mas também para estudar as leis desta ilha" (Porfirio, Vida de Pitágoras, 25). Possivelmente alguém aconselhou a Pitágoras ir ao Egito. Este conselheiro poderia ter sido discípulo de Tales de Mileto, mas não o mesmo Tales conforme imprecisa informação de Porfírio: "Tales persuadiu a Pitágoras, que ele embarcasse para o Egito e ali convivesse com os sacerdotes de Mênfis e Heliópolis, porque também ele mesmo obtivera sua instrução junto desses sacerdotes, pela qual o sábio é estimado pelo povo" (Jâmblico, Vida de Pitágoras). Algumas décadas depois, Heródodo descreverá os mistérios, possivelmente os mesmos, que Pitágoras houvera então aprendido. Segundo Heródoto, os egípcios não levam o costumeiro manto ao entrarem no templo e nem envolvem nele o morto. Eis, quando acrescentou uma curiosa explicação, porque se refere ao orfismo e ao pitagorismo: "Este costume tem relação com as cerimônias órficas e pitagóricas" (Heródoto, História, II, 81). Diz Aristóxeno, que Pitágoras recebeu suas doutrinas de Temistóclea, sacerdotisa de Delfos (D. Laércio, VIII, 21). Pitágoras teve um escravo, cujo nome foi Zamolclo. Contudo, "ele jamais, mesmo em cólera, bateu em alguém, fosse livre, fosse servo" (D. L., VIII, 20). "Eu sei, segundo narram os gregos do Helesponto e do mesmo Ponto, que Zamolclo, ainda que filho de mulher e de um homem, serviu como escravo em Samos, mas felizmente a Pitágoras, filho de Nesarco. Saindo livre de Samos, ele colheu por meio de hábil trabalho próprio um tesouro significativo, com o qual voltou à sua pátria [Trácia]". A vinda de Pitágoras para o Ocidente poderá ter sido motivada nas alterações políticas no Oriente grego, principalmente em Samos. Depois de suas viagens, e retornando à Samos, decidiu abandonar definitivamente a região, para tomar o rumo de Crotona, uma cidade portuária do Sul da Itália. "Ao retornar à Samos, ele encontrou sua pátria em mãos do tirano Polícrates, e se retirou para Crotona, Itália" (D. L., VIII, 3). Possivelmente, agora este mesmo Polícrates, que o havia recomendado ao Faraó Amasis, ter-se-ia tornado intolerável. Como se sabe, finalmente Polícrates conspirou contra os persas, os quais o capturaram e o crucificaram, em 522 a.e.c. A saída de Pitágoras para o Ocidente poderá ter acontecido cerca de dez anos antes, talvez pelo ano 532 a.e.c., tendo então cerca de 40 anos de idade. Quando Pitágoras chegou à Crotona, esta cidade aparentava estar vencida por outra. O ádvena assim pôde surgir como um salvador. Efetivamente, Pitágoras reorganizou a sociedade de Crotona. Sabe-se mesmo que cerca do ano 510 a.e.c., venceram a sua vizinha cidade rival de nome Síbaris, situada pelo lado Norte. "Legislador dos crotonianos, ele captou de tal maneira a confiança dos mesmos, que eles depunham em suas mãos o imposto do Estado, e ainda nas dos seus discípulos, ao todo cerca de trezentos; rapidamente a sabedoria de sua administração fez do seu governo uma verdadeira aristocracia" (D. Laércio, VIII, 3). No laborioso período em Crotona, ele também amou. Segundo Diogenes Laércio A esposa de Pitágoras chamava-se Teana, filha de Brontino e companheiro de Pitágoras. Teve uma filha de nome Dama, mencionada por Lisis em carta a Hiparco [...] Ele teve também um filho, Telauges, que o sucedeu como herdeiro, e foi, segundo uns, mestre de Empédocles. A este respeito, Hipóboto cita verso de Empédocles: Telauges, famoso filho de Teano e Pitágoras (D. L., VIII, 41). A Criação da Comunidade Pitagórica de Crotona - Eis uma instituição significativa criada por Pitágoras em Crotona, para estudo e prática religiosa. Teve a comunidade uma primeira fase, em vida do mesmo Pitágoras, e que se confunde ainda com sua biografia. Outra fase da comunidade pitagórica é dispersiva, quando se expandiu por toda as cidades gregas. Finalmente no período helênico-romano a comunidade se fará conhecer como neopitagórica. Estas organização tipicamente oriental pela forma e pela ideologia, transformou a vida política da cidade de Crotona, a qual por isso mesmo progredia. Não teve a comunidade pitagórica um resultado final feliz em Crotona. Ela se tornou excessivamente aristocrática e teocrática. Uma reação popular abateu finalmente a comunidade, matando a muitos dos seus membros, inclusive ao mesmo Pitágoras. Não são claras as versões sobre o incidente da dispersão da comunidade pitagórica e morte de Pitágoras. Morte de Pitágoras - Diz uma versão, que a morte infligida a Pitágoras aconteceu na mesma Crotona. Outros dizem, que ele morreu em Metaponte ou em Siracusa, depois de sua fuga. "Eis como morreu Pitágoras: Estava em casa de Milon, com seus companheiros, quando um, ao qual havia despedido, pôs fogo na casa, para se vingar". Conforme outra versão, foram os mesmos crotonianos que colocaram o fogo, para livrar-se da tirania a que ele os havia submetido. Pitágoras conseguiu escapar. Alcançaram-no todavia em sua fuga, porque, havendo chegado a uma semeadura de favas, se deteve, dizendo: - É melhor ser detido que pisá-las com os pés. Antes morrer, que falar. Então foi degolado pelos que o vinham perseguindo. A maior parte dos seus , em número de 40, pereceram nesta ocasião. Muito poucos conseguiram escapar, entre os quais estavam Árquitas de Tarento e Lísis. Assevera Dicearco, que Pitágoras havia buscado asilo em Metaponte, no templo das Musas, onde morreu de fome após 40 dias. Heráclides sustenta opinião contrária em seu compêndio das Vidas de Sátiro. Diz que Pitágoras, depois de haver ido a Delos para sepultar Ferécides, retornou à Itália. Havendo encontrado a Milon de Crotona nos preparativos de um grande festim, se retirou imediatamente à Metaponte, de onde, cansado de viver, se deixou morrer de fome. Hermipo dá outra versão. Segundo ele, Pitágoras havia ido com seus companheiros para pôr-se à frente dos agrigentinos em uma guerra que estes sustentavam contra os de Siracusa; posto em fuga, encontrou um campo de favas e foi morto pelos de Siracusa. Seus companheiros, em número de 35, foram queimados em Tarento, por se haverem oposto aos chefes do governo " (D. Laércio, VIII, 38). Por causa do caráter coletivo do pitagorismo e da inspiração religiosa de todo o movimento, encontram-se algumas semelhanças entre a documentação pitagórica e a cristã. Como Pitágoras, também Jesus nada escreveu, ocorrendo a codificação de suas doutrinas em décadas posteriores, em escritos, chamados Evangelhos e outros documentos. Também à semelhança dos pitagóricos, os cristãos deram toda a doutrina como tendo sido de Jesus, ainda que pudessem ter introduzido variantes, quer no estilo, quer nas ênfases. Ainda que alguns escritos pitagóricos tenham determinação clara dos seus autores, já outros não os têm tão claros. Por isso, didaticamente importa um item com esta titulação geral, - Escritos pitagóricos, - mesmo que isto resulte em repetitividade. Dentre os escritos que não apresentam autor claro, alguns parecem haver sido aperfeiçoados através do tempo, como já acontecia com os códigos das religiões orientais. Mas, ainda que renovados, eles não perdem de todo seu valor de conteúdo. Eles continuam representando sobretudo a escola onde nasceram e se desenvolveram. Devem então ser citados como o fez Aristóteles. Este cautelosamente diz pitagóricos, e não Pitágoras. O mesmo Pitágoras talvez nada houvesse escrito pessoalmente ao modo de livro. Sabe-se que o texto denominado Física (De natura) atribuído à Pitágoras é um apócrifo de Alexandria, escrito em dialeto jônico. Ocupou-se Diógenes Laércio em arrolar detalhadamente as obras que se atribuíam a Pitágoras: Afirmam alguns autores, que Pitágoras não deixou obra alguma. Isto porém não importa, porque Heráclito o físico, diz expressamente o contrário: ‘Pitágoras, filho de Nesarco, é de todos os homens o que mais bebeu nas fontes históricas; ele explorou em todas as obras e compôs assim sua própria sabedoria, muito erudita, certamente, mas também muito mal ordenada’. Assim se expressou Heráclito, porque Pitágoras, em exórdio em seu tratado da Natureza, emprega as seguintes expressões: ‘Não é pelo ar que respiro, pela água que bebo, a censura não me alcançará por estes escritos’. Pitágoras deixou três tratados: Sobre a educação; Sobre a política; Sobre a natureza. Quanto à obra que hoje se lhe atribui, esta é de Lísis de Tarento, filósofo pitagórico, que, havendo-se refugiado em Tebas, foi aqui mestre de Epaminondas. Assegura Heráclides, filho de Serapion, no compêndio, que havia escrito muitas obras poéticas: uma acerca do universo, um canto sagrado que começava assim: ‘O jovens, guardai silenciosamente estes preceitos’; Um poema sobre a Alma; Outro sobre a Piedade; Um quinto intitulado Helotal, do nome do pai de Epicarmo de Cós; Um sexto sobre Crotona, e muitos outros. Diz-se que o tratado dos Mistérios é de Hípaso e que este o compôs para obscurecer a Pitágoras. Também se diz que lhe haviam sido atribuídas muitas composições de Astón de Crotona. Aristóxeno assegura que Pitágoras havia recebido de Temístoclea, uma sacerdotisa de Delfos, a maior parte de seus preceitos morais. Ion de Quios diz, em Triagmes, que ele havia apresentado algumas de suas composições poéticas como se fossem de Orfeo. Atribuem-se-lhe também os célebres Mandamentos, os quais começam assim, - Não ofendas a ninguém" (D. Laércio., VIII, 7). Fizeram-se muito conhecidos e citados os Versos de ouro, ou Sentenças de ouro (latinizados sob o título Carmen aureum), ao todo 71, em cerca de 4 páginas. Consistem em afirmações de sabedoria, sobre a vida e os costumes. Expressam o espírito pitagórico, ainda que com o estilo posterior. A coletânea aparenta haver sido realizada por autor do período helênico-romano, o qual tinha ao seu dispor escritos os mais diversos que então circulavam entre os neopitagóricos. O Crísipo 282 -204 a.e.c. um filósofo estóico, já cita uma destas sentenças pitagóricas (vd Aulo Gélio, I, VI, 2). Não garante esta citação de trezentos após Pitágoras, que já então existisse a coleção como um todo, porque Crísipo racionalmente poderia ter tomado este verso do texto mesmo de um discurso santo. Hoje a mais aceita das opiniões é a de que estes Versos de Ouro, datam do séc III d.e.c., portanto 700 anos após Pitágoras, e que esta coleção tenha sido criada nos meios neopitagóricos de Alexandria. Neste tempo os platônicos e pitagóricos se aplicavam à conservação da herança cultural da antiguidade, reafirmando-a frente às inovações. Doutrinas Os números como elementos dos seres | Os números como arquétipos | Os contrários | Cosmologia e astronomia | A harmonia e a música | A matéria e o espírito | A Ética Os textos pitagóricos se ocupam dispersivamente de várias doutrinas da escola, as quais entretanto importa sistematizar. Mas, ao se fazer a citação do mesmo texto, não se pode evitar uma certa repetição. Pela ordem adotada por Aristóteles, a tese principal do racionalismo pitagórico é a dos números, apresentados como elementos constitutivos das coisas. Logo depois importa advertir que estes números contêm o caráter de haverem obedecido a arquétipos correspondentes, como exemplares universais das coisas individuais. Também se deve advertir que os números se apresentam como contrários entre si, e que devem ser harmonizados. Depois desta metafísica racionalista seguem os parágrafos sobre os restantes temas da filosofia pitagórica. Os Números Como Elementos dos Seres - A consistência do ente é uma pergunta importante, já levantada pela escola jônica, vindo agora a receber junto aos pitagóricos uma nova e curiosa resposta: A consistência do ente é o número. De pronto esta doutrina reclama esclarecimentos, - o que efetivamente os pitagóricos entendiam pelos números? E quais as propriedades que lhes atribuíam? Historicamente, a doutrina dos números talvez nem pertença ao mestre Pitágoras. Mas aos seus discípulos, principalmente a Filolau. A preocupação do mestre estava antes na espiritualidade, enquanto a doutrina dos números, que em parte talvez o inspirava, floresceu efetivamente um século depois. A Pitágoras, como aos órficos e orientais em geral, o que importava era o simbolismo dos números. Isto não é o mesmo exatamente que estabelecer aos números como elementos constitutivos das coisas. Vivenciou Pitágoras o simbolismo dos números e terá estudado a matemática. Mas possivelmente não se estendeu até a criação de uma interpretação metafísica de tudo pelos números. Nem terá estudado a matemática ao ponto de descobrir o assim chamado Teorema de Pitágoras. Somente de futuro os neopitagóricos atribuirão a totalidade do sistema pitagórico ao primeiro mestre da escola. Nesta hipótese Pitágoras teria sido um religioso, um moralista, um político e pouco mais, todavia o suficiente para crescer aos olhos dos discípulos do futuro. A natureza dos números pitagóricos, eis uma questão polêmica. Estes números não se confundem com os símbolos gráficos, os quais entre os gregos nem existiam senão como letras com um acento diacrítico. O nome número incluía mais do que a simples numeração – um, dois, três, etc., - mas também as noções geométricas, - face, área, longitude, linha, esfera, volumes, etc.. Alongou-se Aristóteles sobre os números dos pitagóricos, ao instalar em sua metafísica o estudo do ser em geral. Como não podia deixar de fazer, informou com abundância sobre a interpretação dada pelos pitagóricos. Advertiu claramente que os elementos constitutivos dados pelos pitagóricos para o ente, eram os números, e que se opunham como par e ímpar. Informou ainda que alguns pitagóricos apresentavam outras espécies de contrários. "Os assim chamados pitagóricos foram os primeiros a se aplicarem à matemática, e não só fizeram progredir o seu estudo, mas também adestrados como estavam nele, julgaram que os seus princípios eram os princípios de todas as coisas. Como, de tais princípios, os números são por natureza, os primeiros, e lhes parecia ver nos números muitas semelhanças com as coisas que são e vêm a ser. São números o fogo, a terra e a água. Tal ou qual modificação dos números são a justiça, outra a alma e a razão, e outra ainda a oportunidade. E, analogamente, comportam quase todas as demais coisas uma expressão numérica. Por outro lado, viam ainda que as modificações e as razões da escala musical podiam ser expressas em números. E, como, em suma, todas as outras coisas pareciam ser modeladas em sua natureza integral pelos números, e os números se afiguravam ser as primeiras coisas na natureza como um todo, supuseram eles que os elementos dos números fossem os elementos de todas as coisas, e que o céu inteiro fosse uma escala musical e um número. E, sempre que podiam mostrar uma correspondência das propriedades dos números e das escalas dos atributos, as partes e a disposição total dos céus, incluíram e ajustaram tais propriedades ao seu sistema, preenchendo sem hesitar as lacunas que se lhes deparavam, a fim de dar coerência à teoria. Por exemplo: como o número dez é considerado perfeito e contendo em si a natureza de todos os números, dizem eles que os corpos que se movem através dos céus são dez; ora, como os corpos visíveis são apenas nove, de maneira que, para vencer a dificuldade, inventam o décimo, a Anti-terra" (Arist., Metafísica, 985b 23 – 986a 12). Como precisamente entender aos números como elementos dos corpos. São evidentemente os números apenas determinações dos corpos, a partir das quais não parece possível reduzi-los simplesmente aos números, como se estes fossem a substância mesma de sua entidade. Também não se mostra como se pudesse reduzir as propriedades em geral, como a justiça, a números. Consequentemente, todo o contexto pitagórico se apresenta obscuro, pouco convincente, ainda que contivesse elementos que puderam inspirar a posterior doutrina dos arquétipos reais de Platão e ao simbolismo em geral. Aristóteles, depois de haver examinado diversas teorias sobre a natureza dos corpos, aludiu mais uma vez ao ponto de vista pitagórico: "Alguns filósofos opinam, que os limites dos corpos, como superfície, linha, ponto e unidade são substâncias, e também que isto é o corpo e o sólido mesmo"(Metafísica, VII, 1.1028 b 15-17). Aristóteles, ao arrolar uma série de problemas, - aporias, - colocou sob número 14 a que atingia aos pitagóricos: "Os números, sólidos, superfícies, pontos são, ou não são substâncias? " (Metafísica, III, 5. 1001b 27). Mais adiante: "Mas o corpo certamente é menos substância do que a superfície, a superfície menos que a unidade e o ponto. O corpo é aliás definido por estas grandezas, e possivelmente elas podem existir sem os corpos, e o corpo não pode existir sem elas. Eis a razão porque – ainda que a maioria dos filósofos e entre eles os mais antigos acreditaram, que as substâncias e o ente são o corpo, e que as outras coisas são apenas afecções dos corpos, de maneira que os princípios do corpo são também os princípios dos entes – os filósofos recentes, com fama de mais hábeis que os anteriores, opinam que os princípios do ente são os números" (Arist., Metafísica, III, 5. 1002a 3-12). Advertindo, que os filósofos anteriores à escola jônica não falaram claramente sobre os elementos constitutivos das coisas, Aristóteles opina que os pitagóricos também não o fizeram: "Os pitagóricos têm falado, no mesmo sentido [como Parmênides, Anaxágoras e Empédocles, com a mesma obscuridade] de dois princípios [causa material e eficiente], mas acrescentaram as duas particularidades seguintes. Primeiramente, o Limitado, ou Uno, e o Ilimitado não são, pensam eles, certas outras realidades, tais como o fogo, a terra ou outro elemento desta espécie, mas é o Ilimitado mesmo e o Uno mesmo que são a substância das coisas das quais eles são afirmados, e é porque eles disseram que o número é a substância de todas as coisas. Tal é a maneira pela qual eles têm opinado sobre estas coisas. Em segundo lugar, a respeito da essência, foram eles que começaram a examinar e a definir. Mas o fizeram de maneira muito simples. Com efeito, definiram a superficialmente, e o primeiro número ao qual aplicaram a definição dada, eles o consideraram como a essência da coisa definida. Acreditaram serem idênticos o duplo e a díada (o dois), porque a díada (o dois) é a primeira coisa de que o duplo é afirmado. Sem dúvida, a essência do duplo e da díada não são a mesma coisa, senão o Uno seria múltiplo. Entretanto, eles não hesitaram tirar esta consequência" (Arist., Metafísica, I, 5. 987a 14-28). E assim é que o finito e o infinito, os números em geral, não são atributo de algo mais fundamental, mas são o mesmo fundamento. Afinal, que seriam efetivamente os números? Eles talvez não sejam substancializáveis, como queriam os pitagóricos, ao convertê-los em fundamento, mas seriam consequência das substâncias numeráveis. Embora talvez errando sobre a natureza dos números, os pitagóricos introduziram o seu questionamento. No inícios dos tempos modernos, Descartes 1596-1650 d.e.c. asseverou algo similar aos pitagóricos, quando propôs que a quantidade é a essência dos corpos. O conceito pitagórico dos números era algo similar à quantidade na filosofia cartesiana. Pelo mesmo caminho se tenta a refutação. Mas nem só a quantidade espacial importa em números, ainda que sobretudo nesta eles ocorram. Em qualquer substância podem ocorrer os números, mas sempre como decorrência, ou seja, como propriedade. As qualidades, por obra das quais os entes se diferenciam entre si, novamente se fundam nos números, no entender dos pitagóricos, e por isso geram símbolos. Os números determinam os entes. O finito como que limita ao infinito. O que o número não limita, resta impreciso e obscuro. As hierarquias matemáticas dos números são, além disto, traduzidas em valores morais e símbolos; místicos. Pode-se duvidar sobre algumas das categorias e sobretudo sobre a eficácia mística de tais símbolos, não raro equivocadamente utilizados em argumentações; mas não de haver base para a criação de tais símbolos. "Efetivamente, tudo o que se conhece, tem número. Sem ele nem seria possível conhecer ou pensar algo" (frag. 4 de Filolau, em Stobeo, Eklogoj I, 21, 7 b). Principalmente o número dez tem importante função no ordenamento e compreensão de cada coisa, de acordo com os pitagóricos. Ele contém tudo o que existe, e por isso ele é o número perfeito. É o que aparenta estar neste quadro 10 = 1+2+3+4. O uno é a mônada, porque não é nem par, nem ímpar. Ele é todo o número. O dois é a linha. Ou seja, o primeiro par. O três é a superfície. Ou seja, o primeiro ímpar. O quatro é o sólido. Ou seja, o primeiro quadrado. Até onde tem acerto esta análise pitagórica? A divisão dos números se faz pela unidade. Portanto, 3 é 1+1. Assim, também 3 é 1+1+1, e não 1+2. Na medida que a análise pitagórica supõe os elementos anteriores, não pode estabelecer o número dez como perfeito e superior. "Entre as grandezas aquela que é divisível conforme uma só dimensão é uma linha; aquela que é divisível pelas duas dimensões, uma superfície; e aquela que é divisível pelas três dimensões, corpo. Fora disto não há outra grandeza, visto que não há senão três dimensões em tudo o que é divisível. Com efeito, como o dizem também os pitagóricos, o mundo, e tudo que ele contém, é determinado pelo número três, porque o fim, o meio e o começo, forma o número daquilo que é um todo. O número dado é a tríada. É ainda porque havendo recebido estas determinações, da natureza mesmo, como se elas fossem de alguma maneira suas leis, nós nos servimos também do número três no culto dos Deuses" (Aristotelo, Tratado do mundo, I, 1. 268a 7-15). A diversidade, a mudança, as causas, as coisas compostas, - tudo é esclarecido pelos números. Conforme a diversidade dos limites da figura, os números definem os seres. Portanto, nas mudanças, a modificação das é também a modificação dos números. Tal é evidente na escala musical. Não obstante Aristóteles adverte que as causas não se explicam adequadamente pelos números. "Não se definiu como os números são as causas das substâncias e do ente. Eles são como limites, como os pontos ao longo da grandeza: Eurito atribuiu um número para cada coisa, por exemplo, um para o homem e outro para o cavalo; imitando com pedrinhas as figuras dos seres vivos, do mesmo modo como se arranjam os números nas figuras do triângulo e do quadrado" (Arist., Metafísica, 5. 1092 b 10-14). Um fragmento de Teo de Esmirna esclarece mais sobre a concepção pitagórica dos números na formação dos seres: "Julgam-se as obras e a essência do número pela potência do número dez (que está na década). Sendo grande, completa tudo, é princípio e guia da vida divina e celeste, como também da humana. Participa do poder do número dez (potência da década). Sem esta, todas as coisas seriam sem limites, incertas e obscuras. A natureza do número é causa do conhecimento. Ele é guia e mestre para cada um, em tudo o que lhe é duvidoso e desconhecido. Se não fosse o número e a sua essência, nada das coisas seria manifesto a ninguém, nem em si mesmas, nem em suas relações com outras. Agora, porém, este torna todas as coisas conheciveis, ao harmonizá-las na alma com a sensibilidade, harmonizando também as suas relações mútuas, de acordo com o indicador (gnômon), revestindo-se de corpos, distinguindo as relações de cada coisa das demais, sejam ilimitadas, sejam limitadas. Pode-se ver a natureza e a potência do número desenvolver a sua força, não só nas coisas demoníacas e divinas, mas também em toda a parte, em todas ações e palavras humanas, bem como no domínio da arte e da música. Nem a natureza, nem a harmonia abrigam em si a falsidade. Pois ela não lhes é própria. A falsidade e a inveja são próprias da natureza do ilimitado, do insensato e do irracional. A falsidade não se insinua de nenhum modo no número. Pois a falsidade é hostil e inimiga de sua natureza, ao contrário da verdade, conforme e congênita à natureza do número"[Frag. 11] (Theo de Esmirna 106, 10). Conhecem-se os números atribuídos pelos pitagóricos para diferentes seres. Ocorrem também discordâncias. A justiça para uns é o número 4, ou 9; ela seria 2+2=4; ou 3 x 3=9 (vd Alexandre de Afrodísio, Comentário à Metafísica de Aristotelo, 38, 12 k.s.). Também seria o número 3, pelo informe de Plutarco (Sobre Isis e Osiris, 75). O número da alma é dado como sendo 1 (vd Alexandre de Afrodísio 39, 13). Mais detalhadamente, Asclépio (36,20) informa, que o número é 1 para a razão intuitiva; 2 para a razão inteletiva. Mas, segundo Siriano a inteligência teria o número 6, ou 216. Eis alguns outros números, ainda que divergindo segundo os informantes e dos mesmos pitagóricos: 5 – união sexual; 7 - tempo; 8 - harmonia; 10 - perfeição..A inserção de elementos míticos na doutrina dos números foi muito grande entre os pitagóricos (vd Ross, I, 144, Sobre o misticismo aritmético,). Já procede dos tempos primitivos o misticismo dos números e das cifras. Mas por causa da interpretação dos números como componentes da natureza, cresceram os mitos e os misticismos neste campo. Possivelmente ainda, por causa da crescente influência do orfismo e do pitagorismo no mundo helênico, encontra-se a presença mítica e mística dos números em toda a literatura que desde então se criou. Até mesmo o primeiro capítulo do Gênesis da Bíblia judaica descreve a criação do mundo em seis dias, com o descanso do criador no sétimo. Eis um texto redigido aproximadamente no Séc. VII a.e.c., exatamente quando no Ocidente principiava a atuação mais pronunciada do misticismo dos números. Com referência ao misticismo do número 3, alcançou sucesso nos meios neoplatônicos, especialmente em Plotino (c. 205-270). Já antes de Plotino o judeu Filon de Alexandria (25 - 50 d.e.c.) se fizera neoplatônico e passava logo a influenciar aos primeiros cristãos. O resultado foi a formulação de uma conceituação racional para o dogma da Trindade. O prestígio mítico do número dez aconteceu em todos os povos, em função certamente do sistema decimal de contagem. Antropologicamente, o sistema decimal esteve sob a influência óbvia dos dez dedos do humano. Mas junto aos pitagóricos esta convicção se firmou com a análise, que dava a este número como o mais perfeito no seu conteúdo, porquanto coincidia com a soma dos demais: 1+2+3+4=10. Respectivamente ainda ocorria a relação com a linha, a superfície. Tudo estava, de acordo com o texto de Filolau: "Julguem-se as funções e as essências do número de acordo com a potência do número dez; porque ele é grande, é aquele que tudo completa". Pelo número 4 e o 10 os pitagóricos juravam. "Juro-te, por aquele, que transmitiu à nossa alma o sagrado quaternário" (Versos deouro, 46) (vd também Luciano, De lapsu inter salut., 5). O juramento ante o Dez se fazia frente à misteriosa figura do tetraktys. Os Números Como Arquetipos - O caráter exemplarista dos números é uma particularidade importante do pitagorismo. Por este caminho influenciou a filosofia de Platão, o qual estabeleceu a doutrina das idéias arquétipas. Primeiramente, a doutrina pitagórica estabeleceu que tudo era constituído de números. Tal doutrina se desenvolveu sobretudo com Filolau. A seguir passou esta doutrina dos números a desenvolver o princípio de exemplarismo, o que já um novo detalhe. Caracteriza-se qualquer exemplarismo pelo fato de admitir que todo o indivíduo se cria obedecendo a um modelo geral anterior. A perfeição se dá na medida que o indivíduo modelado se aproxima do exemplar absoluto. De acordo com a doutrina pitagórica o modelo é o número. De uma parte, estão colocados como modelos os números: linha, área, esfera, etc. De outra parte surgem os números individualizados: linhas individuais, áreas individuais, esferas individuais, etc. Efetivamente, se atender ao que se observa, por exemplo, uma roda concreta, pode-se imaginar imediatamente a idéia abstrata de roda, e situá-la como independente desta realização concreta. A questão que imediatamente se ergue, é a de como interpretar a natureza do arquétipo. Os pitagóricos destacaram o número, Platão a idéia real, Aristóteles um elemento absoluto sem separá-lo dos indivíduos. Finalmente os relativistas de toda a espécie simplesmente negam o exemplarismo ontológico. Sobre o exato alcance do exemplarismo defendido pela escola pitagórica não restam muitos informes, sobretudo não sobre as provas. Mais resta sobre o exemplarismo de Platão, que teria apelado aos universais reais, porque pensava não poder apoiar-se nas coisas singulares. Infere-se que os pitagóricos também tenham pensado, e já anteriormente. Ao tratar Aristóteles do exemplarismo platônico, fez uma breve menção da origem pitagórica desta doutrina, advertindo que Platão trocou o número pelas idéias. O mesmo Aristóteles defendeu um exemplarismo muito moderado. Aceitou, como Parmênides, a verdade ontológica, segundo a qual todo o ente obedece a um esquema racional. Este esquema é representado pelo conteúdo das idéias universais. Em Platão os arquétipos exemplares são idéias universais reais, enquanto em Aristóteles todo absoluto é interno ao mesmo indivíduo, no sentido de que não existem idéias universais reais separadas. Depois dos sistemas vem a filosofia de Platão, que a muitos respeitos segue a estes pensadores [os pitagóricos], mas tem características próprias, que a apartam da escola itálica. Tendo-se familiarizado desde jovem com Crátilo e as doutrinas heraclíteas (de que todas as coisas se encontram em perpétuo estado de fluxo e que não se pode ter conhecimento delas), manteve mais tarde essas opiniões. Sócrates, no entanto, ocupava-se com questões éticas e negligenciava o mundo como um todo, mas buscava o universal nesses assuntos de Ética e, pela primeira vez, aplicou o pensamento às definições. Platão aceitou sua doutrina, sustentando, porém, que o problema não dizia respeito às coisas sensíveis e sim a entidades de outra espécies – e, por este motivo, a definição comum não podia versar sobre qualquer coisa sensível, uma vez que estas mudavam constantemente. A essa outra espécie de coisas chamou Idéias (ou formas), dizendo que os sensíveis eram denominados de acordo em elas e em virtude uma relação com elas: pois o múltiplo existe graças à participação nas Idéias que com eles têm o nome em comum. Aqui só existe de novo o termo participação, pois os pitagóricos dizem que as coisas existem por imitação dos números, e Platão, porparticipação, mudando apenas o nome. Mas quanto ao que seja imitação ou participação nas idéias, deixaram a questão aberta" (Metafísica, I, 6. 987a 29 – b –13). Na Idade Média Tomás de Aquino fez de Deus criador o exemplar único de todas as coisas por ele criadas. O contexto é todo outro, por causa da introdução do conceito de criação, e ainda porque Deus é considerado infinito. Assim sendo, não poderia a criatura não poderia ser senão a imitação de algum aspecto da divindade. A posição de Tomás de Aquino conjuga em um só sistema o platonismo e o aristotelismo. Possivelmente os pitagóricos se fundavam no mesmo argumento de Platão. Segundo este, conforme a citação feita "não é possível que a definição universal esteja em algum das coisas sensíveis individuais", e por este motivo, "a definição comum não podia versar sobre qualquer coisa sensível, uma vez que estas mudavam constantemente". Os Contrários - Fundamentalmente, a natureza é composição de elementos contrários, - o finito e o infinito, o calor e frio, o pleno e o vazio, a matéria e o espírito, o par e o ímpar, o masculino e o feminino, o bem e o mal, e assim por diante. Há uma distinção entre a contrariedade e os mesmos elementos que se situam em contrariedade. Há, pois, como tratar primeiramente da contrariedade simplesmente e depois dos elementos em contrariedade. Por causa da contrariedade, a doutrina pitagórica se apresenta claramente diversa da dos filósofos jônicos de Mileto (Tales, Anaximandro, Anaxímenes). Esta harmonia de contrários se complementando entre si é precursora da teoria platônica e depois também aristotélica da composição dos corpos de matéria e forma. Como se sabe, o atomismo tem dos corpos a compreensão de elementos inteiramente simples. Diferentemente, o hilemorfismo, como se veio a denominar, a teoria da composição dos corpos em matéria e forma, entende as coisas como estrutura de um elemento indeterminado e outro determinador. Tal nova doutrina terá diferenciações na sua concepção, mas fundamentalmente é igual em todos os que a adotaram. Todavia nem tudo é novo no pitagorismo sobre a harmonia dos contrários. O orfismo, cujo representante à época de Pitágoras fora Ferécides de Siros, já vinha insistindo na composição dos contrários. Mais remotamente a doutrina vem do mitraísmo e mazdeismo da Pérsia. já continha tais princípios . A insistência se encontrava sobretudo nos contrários do bem e do mal, do espírito e da matéria. Agora os pitagóricos passam a desenvolver tais idéias, aperfeiçoando-as filosoficamente. E finalmente as transferem ao sistema do platonismo, já agora bastante desligadas do mito. Com referência à escola eleática (Xenófanes, Parmênides, Zenão) também ela foi influenciada pela consideração dos contrários, todavia somente para o mundo físico exterior alcançado pelos sentidos. Diferentemente, a verdade da inteligência, que trata do ente, encontra a este como homogêneo. A realidade da inteligência é verdadeira, enquanto que a dos sentidos é ilusória. Platão, - discípulo que foi dos mestres eleaticistas da escola de Mégara e frequentador dos meios pitagóricos do Ocidente, - manterá a restrição contra o mundo material. Finalmente Aristóteles estabelecerá uma filosofia em que sensação e razão se coordenam. Ainda quanto aos pitagóricos há a anotar que, ao tratarem dos contrários, não se ocuparam quanto os eleatas, com o ser e o não ser. Ficaram os pitagóricos retidos em contrariedades particulares, como a oposição entre finito e infinito, par e impar, espírito e matéria, bem e mal, quente e frio, etc. Também estes contrários particulares são de importância. Todavia, eles dependem de questionamentos maiores, e que se situam no plano mesmo do ser. No futuro foi levantada pela filosofia dialética de Fichte, Schelling, Hegel, Marx a possibilidade de que a contrariedade incluiria um terceiro elemento, a síntese dos contrários, estes ditos tese e antítese. A este respeito importa considerar que a antiga noção de contrariedade era a da contrariedade à identidade. Esta contrariedade à identidade, peculiar sobretudo à lógica de Aristóteles, entende que o ente é tudo, o não ente é nada, não podendo portanto do ser e do não ser resultar uma nova síntese. Restam ainda fragmentos e doxografias sobre a teoria dos contrários oferecida pelos pitagóricos. Filolau, assevera em seu tratadoSobre a natureza: "A natureza – o cosmo e tudo nele contido – forma um todo harmônico, do infinito e do finito" [fragmento 1, de Filolau] (D. L., VIII, 85). "O pitagórico Filolau afirma serem princípios o finito e o infinito" (Aécio, 3, 10). "Ao princípio da unidade, do ser idêntico e igual, chamou-se Uno. Em contrapartida, chamou-se dualidade, ao princípio da diversidade e da desigualdade, de tudo o que é divisível e mutável, e ora se acha em um estado, ora em outro" (Porfirio, Vida de Pitágoras, 52). "Ao mesmo tempo todos os entes necessariamente são finitos e infinitos. Não podem todos ser apenas finitos, ou apenas infinitos. Pelo fato de os entes não serem formados apenas de elementos finitos, ou apenas de elementos infinitos, fica evidente que o cosmos e as coisas nele contidas são compostos de elementos finitos e infinitos. Os fatos o confirmam, porque entre eles, aqueles constituídos de finitos são finitos; de finitos e infinitos são finitos e infinitos; de infinitos são infinitos" (frag. 2 de Filolau. Stobeu, Éclogas, I, 21, 7 a). "Efetivamente se tudo fosse infinito [indefinido], não haveria sequer objeto de conhecimento" (frag. 3, de Filolau, em Jâmblico,Nicômaco, p. 7, 24). "O número tem duas espécies peculiares – pares e impares; e a terceira, resultante da mistura destes dois – par e ímpar. De ambas as espécies derivam muitas formas, e que cada uma demonstra por si mesma" (frag. 5, de Filolau, em Estobeu, Éclogas, I, 21, 7 b). Aristóteles informou vastamente sobre o contrário na doutrina pitagórica. Depois de haver exposto a doutrina dos pitagóricos sobre a essência das coisas, passou a destacar os componentes par e ímpar. "Eles [os pitagóricos] também consideram o número como princípio, tanto na qualidade de matéria das coisas, como de origem de suas modificações e estados permanentes, afirmando que os elementos do número são par e ímpar, e que, dos dois, o segundo é limitado e o primeiro, ilimitado; e que a unidade procede de ambos (sendo, ao mesmo tempo, par e ímpar), e que o número procede da unidade; e que dos números se constituiria, com o já se disse, o céu inteiro" (Metaf., 986a 15-22). Outros entre estes filósofos propuseram dez princípios, que eles ordenaram em séries paralelas: Finito e infinito; Par e ímpar; Uno e múltiplo; Direita e esquerda; Macho e fêmea; Repouso e movimento; Reto e curvo; Luz e trevas; Bom e mau; Quadrado e oblongo" (Metaf., I, 5. 986 a 15-26). Também este é o ponto de vista Álcmeon, ainda que não tão preciso na contrariedade: "É deste modo que Álcmeon de Crotona também parece ter concebido o assunto, opinião que ele recebeu dos pitagóricos ou estes dele, pois tanto um como os outros se expressam de maneira semelhante. Diz Álcmeon que a maioria das coisas humanas anda aos pares, sem se referir, no entanto, a oposições definidas como as de que falam os pitagóricos, mas a quaisquer oposições que o caso nos possa deparar, como preto e branco, doce e amargo, bom e mau, grande e pequeno. Alude vagamente aos outros pares de opostos, enquanto os pitagóricos definem com precisão quais e quantos são eles. De ambas estas escolas se depreende, por conseguinte, que os contrários são os princípios das coisas; e quantos e quais sejam esses princípios, podemos sabê-lo de uma delas" (Metaf., 986a 23 – 986b 8). Ocorre paralelismo entre as duas classes de contrários. O par, por exemplo, é idêntico ao infinito, o par inverso ao finito. Na mesma espécie de contrário as características são desta espécie; por isso o infinito parece par, o finito ímpar. "O par é infinito, e o par contrário é finito" (Arist., Metaf., I, 5. 986a 20). A divisibilidade do par, eis a explicação de seu caráter infinito. "Estes [os pitagóricos] disseram que o infinito é o número par, porque o par se divide em partes iguais, e este, que se divide em partes iguais, pode indefinidamente dividir-se por dois, De outra parte, no ímpar o recebimento de algo o limita, não permitindo a divisão em partes iguais" (Simplicio, Física 545, 20). Natureza do infinito. A natureza do infinito pitagórico é uma espécie de indefinido, inferior portanto ao finito bem definido. É qualquer coisa como a potência real. Não se consegue entender exaustivamente o infinito pitagórico por falta de informações e também por causa do defeito da doutrina mesma. Este infinito vazio dos pitagóricos é uma espécie de espaço real, no qual são recebidos os corpos. A infinitude não é determinação dos mesmos seres. Nem mesmo o infinito é uma propriedade do ente simplesmente. Ele mesmo, por si, é um ser por si. "Afirmam também os pitagóricos que há o vazio. Que, a partir do sopro ;ilimitado, penetra até o céu , que absorve por sua vez, o vazio, o qual delimita as naturezas dos corpos, por ser o vazio uma separação e distinção das coisas colocadas umas após outras. Dizem que isto acontece principalmente nos números, visto que o vácuo distingue a natureza dos mesmos" (Arist., Física, IV, 6. 213b 22). Nesta condição, o vácuo se exerce como realidade, ainda que sui generis. Seria um espaço real, entende como ente capaz de receber corpos. Não coincidindo este vácuo real com o próprio ente, não seria ele um predicado do ente infinito, mas o próprio infinito seria um ente. "Não consideram os pitagóricos e Platão o infinito como acidente (atributo) de outra substância, mas por si, como substância ele mesmo. Os pitagóricos; o incluem entre as coisas sensíveis... e (contra Platão) dizem que o infinito é o que está fora do céu" (Arist., Física, III, 4. 203b 1-9). Portanto, o cosmo vai até certa distância, e para além vai o espaço sem fim como um vácuo real, exterior ao céu astronômico. Estobeu repete a mesma informação sobre o vácuo pitagórico, dizendo que ele distingue os lugares de todas as coisas, e que ele separa os números" (Estobeu, Éclogas, I, 18,1). Distinguiu Filolau o mundo superlunar, cujo nome é Cosmo, do mundo sublunar, cujo nome é Céu. Quanto ao céu, ele contém os seres da geração inconstante" (Aécio, II, 7, 7). Em relação ao Olimpo, ele é a parte mais alta do cosmo. Note-se que o conceito pitagórico sobre o váculo como entidade subsistente passou aos atomistas, cujos átomos são mergulhados no referido váculo, onde nele se movimentam. Eis um conceito que subsiste inconscientemente entre os físicos modernos e que não tem, nem base; científica, porquanto o vácuo em si mesmo é algo paradoxal. Entre os pitagóricos mesmos variam os conceitos sobre o infinito e o vácuo. O mestre Pitágoras acrescentou ao infinito a qualidade de trevas. Este modo de pensar possivelmente chegou a ele através de mitos do Oriente, os quais caracterizam o caos como sem luz. Também a Bíblia judaica recebeu tal influência, porque Deus cria a luz já no primeiro dia (Gen 1,3). A inferioridade do infinito sem luz de Pitágoras mostra-se também no número par. Os pitagóricos o mostram com exemplificações: "Ao se distribuírem as partes, resta uma parte no centro do impar; resta o váculo no par, portanto número imperfeito e incompleto" (Plutarco, em Estobeu, I , 22, 19). Vejam-se as figuras, com as quais os pitagóricos explicam suas afirmativas. Na primeira linha os pontos não encontram o ponto do meio e por isso podem sempre multiplicar-se. Na segunda linha o ponto do meio – ímpar – não permite a progressão dos pontos. Os ocidentais tendem contra este conceito obscuro. Por exemplo, os filósofos eleáticos, se caracterizam por aperfeiçoarem a noção sobre Deus. Xenófanes diz sobre Deus, que "Ele tudo vê, tudo ouve, mas não respira. Ele é ao mesmo tempo tudo, intelecto, sabedoria, eternidade" (D. Laércio, IX, 19). O mesmo repete Parmênides, porque para ele o ente é sempre completo (Frag. de Parmênides 8,1). Filolau e os pitagóricos da nova liga geralmente asseveram, que o infinito é algo luminoso, que eles nomeiam éter. No grego este nome significa não somente a região superior do céu, mas também fogo, brilho. Outro nome deste fogo exterior é empírio, do adjetivo (= abrasador). Alguns sugerem ser o infinito como o ar. Desta idéia deriva a outra sugestão, que o infinito penetra o cosmo interno, como o ar que este respira. Árquitas tentou provar a infinitude do espaço por meio de um exemplo curioso: "Árquitas, segundo o dizer de Eudemo, argumenta assim: Se acaso eu chegasse à esfera exterior, a das estrelas fixas – poderia eu estender, ou não, mais além a mão, ou o bastão? Seria absurdo que não o pudesse; contudo, se eu pudesse fazer isto, tal significaria, que ainda existe mais espaço e matéria... Isto eu poderia fazer em cada novo limite fixado e argumentar pela mesma forma. Enquanto resta algo, em direção do que estender o bastão, é evidente, que isto será também infinito". A Cosmogonia Pitagórica | Rotação da Terra sobre si mesma | O Trono de Deus | As Esferas Celestes A imagem pitagórica do mundo é o da esfera, em cujo interior operam 4 elementos - fogo, água, terra, ar. Os elementos podem misturar-se, mas o contorno consiste em puro fogo. Este circundante se chama também empírio, ou céu, ou ainda éter. Eis, segundo Filolau: "E os corpos [elementos] são cinco: dos quatro internos à esfera - fogo, água, terra, ar, - e o navio" [fragmento 12] (em Teo de Esmirna 106, 10). Evidentemente, "navio" é apenas uma comparação com este instrumento de navegação. Com referência à região exterior, ela é concebida como fogo. Etimologicamente, o seu nome éter, significa algo efetivamente luminoso. E assim também empírio deriva de palavra que em grego significa fogo. Do empírio procedem as almas e para ele retornam depois da morte dos corpos. Elas vêm do céu e para ele retornam. Persistiu o conceito do empírio na filosofia platônica e passou finalmente para a teologia cristã. São Paulo, falando sobre o terceiro céu, diz que ele, em espírito, fora raptado até ele. Conforme a imagem antiga, o primeiro céu é o sublunar, o segundo aquele dos astros, o terceiro fora da região dos astros, o empírio. Somente nos tempos modernos foi removida esta convicção, e mesmo assim apenas na área científica. Culturalmente a massa popular continua vivendo a imagem pitagórica do terceiro céu acima das estrelas, e o céu continua a ser referido poeticamente como lá no empírio. Ocorre uma semelhança entre os conceitos da física pitagórica e os de Empédocles de Agrigento. Este é da escola jônica, ainda que nascido no Ocidente. Como se sabe, Empédocles apresentou como elementos constitutivos originários das coisas uma sequência de quatro, - fogo, água, terra e ar. Adotou também Aristóteles estes esquema. Em Platão, mas no duvidoso Epínomis(981), se encontra uma doutrina curiosa, atribuída por ele a Teeteto, e que contém algo de pitagórico, ao mesmo tempo que jônico. Identifica os elementos originários, em número de cinco sólidos, aos diferentes poliedros: fogo, terra, ar, água, éter. Aécio (II, 6, 5) opina, que aqui Platão está sendo pitagórico. Mas, talvez. Porque esta nova forma de pitagorismo poderia ter sido criada ao tempo de Platão, mas não pelo mesmo Platão. A Cosmogonia Pitagórica - não é mítica, porque o mundo se originou em consequência de leis naturais, de acordo com as quais se processa a mistura dos elementos. Muito progrediu a astronomia com a idéia do fogo central, em torno do qual giram a Terra e os astros. Mas este fogo central não é o Sol, nem é visível a nós, porque estamos situados na face exterior. Somente na época moderna o sistema pitagórico se aperfeiçoará definitivamente. Enquanto outros permaneciam religiosamente geocentristas, os pitagóricos haviam chegado ao menos à idéia do fogo centro, com os astros girando em torno. Na face oposta ao fogo central ia a Antiterra, que também não se vê. Estes outros astros vão igualmente em torno do fogo central. No todo os astros visíveis eram nove, e somente por hipótese se podia saber a respeito de mais um. Existe, pois, a Antiterra, para que se completasse o número dez, o número da perfeição. Diz-se no texto muitas vezes citado: "O número 10 é considerado perfeito e contendo em si a natureza de todos os números, dizem eles [os pitagóricos], que os corpos que se movem através dos céus, são dez; ora, os corpos visíveis são apenas nove, de maneira que, para vencer a dificuldade, inventam o décimo, - a Antiterra" (Aristóteles, Metafísica, 986a 12). Similarmente especulativo era o argumento em favor do fogo central. Por causa da importância do centro, ali não poderia localizar-se a Terra, mas somente o fogo, o mais significativo dos elementos. Finalmente também na beira exterior tudo era fogo, formando o circundante. Rotação da Terra sobre si mesma - foi mais uma inovação atribuída principalmente aos pitagóricos, mais especificamente a Hicetas, Ecfanto, Filolau de Crotona. Levará mais algum tempo, para que outros mais avencem a teoria heliocêntrica do movimento da Terra em torno do Sol. "Filolau... foi o primeiro a ensinar que a Terra tem movimentos de rotação sobre si mesma. Outros atribuem a primazia deste descobrimento a Hicetas de Siracusa" (D. Laércio, VIII, 85). "O pitagórico Filolau situou o fogo no centro, a Antiterra no lado oposto e em segundo lugar, a Terra povoa em terceiro lugar, ambas em oposição e girando" (Aécio, III, 11, 3). "Os outros filósofos afirmam, que a Terra permanece em repouso. Mas o pitagórico Filolau afirma a rotação em torno do fogo central, e isto em círculo obliquo, como também o diz do Sol e da Lua" (Aécio, II, 13, 1). Platão, ainda que pitagórico em muitos aspectos, continuou fiel à antiga hipótese geocêntrica. Informa com detalhe Aristóteles sobre as opiniões astronômicas dos pensadores gregos, até porque ele mesmo escreveu um tratado Sobre o céu: "A maior parte dos filósofos afirma que ela [a Terra] está situada no centro do mundo, e com efeito estes são todos aqueles que consideram o céu como finito [no contexto se trata de Anaxágoras, Anaximandro, Empédocles, Demócrito, Platão]. São de opinião contrária os representantes da escola itálica, que se denominam pitagóricos. Para estes últimos é o fogo que ocupa o centro. A Terra é somente um dos astros, e é ela, pelo seu movimento circular ao redor do centro, que produz o dia e a noite. Além disto, eles constróem uma outra Terra, contrária à nossa e que ele designam a Antiterra" (Arist., Do céu, 293a 18-24). Comenta Aristóteles sobre os argumentos especulativos dos pitagóricos: "Eles não procuram as razões e as causas nos fenômenos, mas solicitam os fatos para os fazer entrar de acordo com certas teorias e opiniões que lhes são próprias no afã de os combinar todos. Também há outros filósofos que estão de acordo com eles, enquanto reconhecem que não se deve localizar a Terra na região central e colocam sua convicção, não nos fatos, mas nos raciocínios. Pensam que cabe ao corpo mais nobre situar-se na região mais nobre; o fogo, conforme eles, seria mais nobre que a terra, e o que estiver no limite, mais nobre que as coisas que se encontram no intermédio; ora a extremidade e o centro (de uma esfera) são o limite, e por conseguinte tomando estas considerações por ponto de partida de seu raciocínio, eles acreditam que não é a terra que ocupa o centro da esfera, mas antes o fogo" (Arist., Do céu, 293, 35-29b 1. Vd também Metaf., 986a 1-13). Como avaliar estes argumentos especulativos? A nobreza do fogo é apenas um ponto de vista do homem. Assim também ocorre com a nobreza do centro, do alto, do lado direito. O centro físico do homem é o umbigo, o centro animal é o coração (Simplício, 514, 8 ss.). No pensamento de Aristóteles o centro do mundo é a Terra. Contudo, Aristóteles não podia ter reduzido a uma especulação pura e simples da razão. Tinham os pitagóricos fatos a explicar, como o dia e a noite; estes fenômenos receberam ao menos melhor esclarecimento na astronomia dos mesmos, e que confirmavam as sugestões aduzidas pelas especulações. "Os pitagóricos apresentam ainda outro argumento. Eles asseveram que a parte mais fundamental do universo deve ser a melhor guardada e esta parte é o centro. Eles a chamam Cidadela de Zeus [Platão, Timeu, 40c] e é o fogo, que ocupa esta região. Como se centro fosse um termo tomado em um sentido simples, e que o centro da grandeza fosse também aquela coisa e seu centro natural. Pelo contrário, nos animais o centro do animal não é o mesmo que aquele do corpo, de onde ser preferível atender a aquilo que efetivamente se passa no caso do Céu todo inteiro. A este respeito não há como se preocupar com o universo, introduzindo nele uma cidadela! Mas se deve, antes, procurar o centro efetivo, e dizer o que ele é, onde ele naturalmente se encontra situado. Este centro será um princípio e uma realidade preciosa, visto que o centro puramente local parece dever ocupar antes o último lugar que o primeiro, porque o que é definido é o meio, e o que define é o limite" (Arist., Do céu, II, 13. 293b 1-13). Mais informações de Aristóteles: "Todos os negadores da localização da Terra no centro pensam que ela gira em torno deste centro, e não somente a Terra, mas também a Antiterra acima citada. Alguns acreditam que podem existir mais corpos se; movendo em torno do centro, corpos invisíveis por causa da intercalação da Terra. Eis uma explicação, segundo eles, por causa do maior número de eclipses da lua, que do Sol, por que cada um dos corpos em movimento, não somente a Terra, podem posicionar-se ante a Lua" (Arist., Do céu, II, 13. 293b 17-25). O jônico Anaximandro havia explicado os eclipses pela falta de luz, por causa da obstrução das aberturas pelas quais saia o fogo dos astros. Na explicação pitagórica os eclipses passam a ser melhor compreendidos. "A ele [Pitágoras] se deve também, conforme Parmênides, a descoberta de que Fósforos [Estrela Matutina] e Hésperos [Vênus] são um só e mesmo astro" (D. Laércio, VIII, 14). O Trono de Deus - O fogo central exerce uma função no todo como cidadela de Deus, ou Custódia de Deus, ou ainda como Trono de Deus. Neste sentido se tem uma informação de Simplício, um comentarista de Aristóteles, e que contém um fragmento deste: "Eles dizem que o fogo central é a potência demiúrgica, que a partir do centro vivifica toda a Terra e aquece a sua frialdade. Alguns a chamam por isso Cidadela de Zeus (como ele, Aristóteles, relata no livro Sobre os pitagóricos), outros Custódia de Zeus (como diz aqui em Do céu), outros, Trono de Zeus. Além disto diziam que a Terra é astro, enquanto instrumento do tempo, causa dos dias e das noites. A parte iluminada pelo lado do Sol produz o dia; a noite é gerada pela parte orientada para o cone da sombra" (Simplício, Do céu, II, 13, com o frag., 204, Sobre os pitagóricos). Finalmente e melhor Heráclides do Ponto – pitagórico do séc. IV a.e.c., que passou para a Academia de Platão a convite de Espeusipo, - situou no centro o Sol. Aristarco de Samos – do séc. III a.e.c. aperfeiçoou esta teoria heliocêntrica. As Esferas Celestes - Para sustentação dos astros nas alturas, eis uma convicção curiosa dos antigos. Eles não conseguiam conceber o posicionamento no espaço sem um sistema corporal de apoio. A Terra paira no espaço, - dizia o jônico Anaxímenes, - mas apoia sobre o ar. A Bíblia judaica afirma que Deus criou o firmamento no segundo dia (Gênesis, 1, 6) e os astros no quarto dia (Gênesis1,16). O velho erro persistiu até os tempos modernos, quando se desenvolveu a teoria da gravidade e toda a sua mecânica, sobretudo a partir de Galileu 1564-1642 d.e.c. e Kepler 1571-1630 d.e.c. Havendo dado à Terra a condição de um astro, os pitagóricos também lhe atribuíram uma esfera para se mover em torno do fogo central. Nós homens não a vemos, porque vivemos na outra face. Eis a sequência das esferas, pela ordem, a partir do fogo central: Antiterra, Terra, Lua, Sol, cinco planetas, céu das estrelas fixas. Os pitagóricos ainda não distinguiam entre a Lua como satélite da Terra, e os outros astros. Estes outros astros eram: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno. Faltam nesta lista dos astros pitagóricos: Urano (descoberto em 1781), Netuno (em 1846), Plutão (em 1930). Com referência à Antiterra, efetivamente não existe. "Um é o cosmo, e começou a se formar a partir do centro, e deste centro para cima com os mesmos intervalos de distância que em baixo. O que está acima, está em oposição ao que está em baixo. O que está em baixo está em relação invertida com o que está em cima. [frag. 17 de Filolau, de Estobeu, Éclogas, 1, 15, 7). A Harmonia | A Música dos Astros | Árquitas de Tarento No final do período pré-socrático, quando aconteceu a evolução geral da filosofia e das ciências, também progrediram as artes, inclusive a música. Os pitagóricos, como decorrência de suas doutrinas sobre os contrários, atingem uma interpretação sistemática da harmonia dos sons. Eis o início da ciência e da filosofia sobre a música, em que se destacam algumas contribuições teóricas de Filolau de Crotona e de Árquitas de Tarento. Descobrindo, que acontece uma relação entre os sons e o número de grandeza, os pitagóricos entraram pelo reto caminho. A harmonia - Os pitagóricos exploraram a natureza da harmonia das partes. Para eles a harmonia resulta da coordenação de elementos contrários, também no que se refere aos sons musicais. A harmonia dita em termos genéricos, por Filolau: "É a harmonia a unificação de muitos misturados, com a concordância dos discordantes" (Frag. 6, de Filolau, citado por Nicômaco,Aritmética, II, 19, p. 115, 2). Sobre a geral harmonia entre os contrários, eis outro fragmento significativo de Filolau: "Dá-se o seguinte com a natureza e a harmonia: Requer a essência das coisas e a própria natureza um conhecimento divino, e não apenas humano. Seria absolutamente impossível que alguma das coisas existentes se fizesse conhecida de nós, se não houvesse a essência das coisas, das quais se constituiu o cosmo, tanto das limitadas, como das ilimitadas. Não sendo estes princípios iguais (1 e 2), nem de iguais famílias, teria sido impossível criar com cosmo com eles, sem o acréscimo da harmonia, qualquer seja a modalidade desta. Coisas iguais e aparentadas não reclamam a harmonia. Diferentemente ocorre com as coisas desiguais, não igualmente dispostas e não de famílias iguais, precisam da harmonia para serem contidas em uma ordem" [frag. 6, de Filolau, em Estobeu, Éclogas, I, 21, 7d). Prossegue o fragmento de Filolau, com raros detalhes sobre a harmonia, ou oitava: "Abrange a harmonia (oitava 1:2) uma quarta (3:4) e uma quinta (2:3). A quinta, - por um tom inteiro, - é maior que a quarta. Pois [traduzido em notação moderna], ocorre uma quarta, do Mi grave ao Lá; uma quinta, do Lá ao Mi agudo. Uma quarta, do Mi agudo ao Si. Uma quinta, do Si. É de um tom, o intervalo de Lá a Si. A quarta contém a relação 3:4. A quinta, 3:3. E oitava, 1:2. Abrange, pois, a harmonia (oitava), cinco tons, e dois. E a quarta, dois tons e um semitom" (2-a parte do frag. 6, de Filolau). A música dos astros - Fizeram ainda os pitagóricos uma aplicação especulativa curiosa sobre os movimentos dos astros e das esferas celestes, induzindo que ali acontecem sons harmoniosos. Diziam que a gente não os ouve, por causa de nosso costume desde o nascimento. Platão tratou mitologicamente sobre estes sons cósmicos (República, X, 616c), certamente sob influência pitagórica. Opinou contrariamente Aristóteles, que, depois de um comentário sobre as esferas celestes, disse conclusivamente: "Estas considerações mostram, que a teoria, segundo a qual os movimentos dos astros geram a harmonia de um acorde musical, apesar da elegância e da originalidade dos defensores disto, não é verdadeira. Alguns filósofos dizem que dos movimentos dos grandes corpos necessariamente decorre som, porque isto já acontece sobre a nossa Terra, ainda que com corpos não tão grandes e nem movidos tão rapidamente. Consequentemente, não é possível que os astros, embora grandes, mas se movendo rapidamente, não produzam fortes sons. Apoiando-se sobre tais razões, e sobre o fato, que a rapidez depende da distância, asseveram que o som produzido pelo movimento circular dos astros é harmonioso. De outra parte, por não ser normal, que ouçamos tais sons, eles explicam que o som já existe em nós por nascimento, restando indistinto, do seu respectivo som contrário, o silêncio. Som e silêncio são sons contrários. Acontece a nós o mesmo que ao forjador, o qual perde a diferença por efeito do costume. Mas, os fatos não provam isto" (Aristóteles, Do céu,II, 10. 290b 13-32) (vd também Simplício, 463, 23). Obviamente, os pitagóricos ainda não conheciam o detalhe, de que pelo vácuo não fluem os sons, de sorte que os astros no espaço não poderiam provocar sons, apesar de seus movimentos velozes e cíclicos. Árquitas de Tarento - Contemporâneo e amigo de Platão, escreveu detalhadamente sobre alguns temas da música. Um fragmento notável e relativamente longo, de sua obra denominada Harmonia, chegou até nós através de Porfírio. "Os matemáticos parecem ter alcançado grande discernimento e não admira que houvessem opinado corretamente sobre as mais diversas coisas. Uma vez alcançado o conhecimento do todo, podiam também derivar para a compreensão das coisas particulares. Transmitiram-nos claros conhecimentos a velocidade dos astros, do surgir e declinar dos mesmos; sobre a geometria, os números, e ainda sobre a música. Estas ciências se entreligam porque tratam de coisas relacionadas entre si, porquanto tratam das primeiras formas do ente, o número e a grandeza. Constataram que o som não é possível, sem haver choque entre os corpos, e o choque acontece quando corpos em movimento se encontram. Os corpos que se encontram em direção oposta produzem um som por efeito simultâneo. Os que se movem na mesma direção e com desigual velocidade, produzem som ao se atingirem, batidos pelos que vêm atrás. Muitos destes sons deixam de ser audíveis por causa de sua natureza de serem produzidos, - uns por causa da pouca força do choque; outros por causa da grande distância em relação a nós; e outros ainda por causa de nossa distância; outros ainda por causa do excesso da força atida, porquanto não penetram nossos ouvidos, do mesmo modo como nada se mete em vaso de pouca abertura quando se derrama algo excessivo. Entre os sons, que chegam aos nossos sentidos, são agudos aqueles, que chegados rápida e fortemente, e são baixos os chegados devagar e fracamente. Se alguém move uma vara lentamente e com pouca força, produzirá um choque de som baixo; mas se a movimentar rapidamente e com força, um som agudo. Não somente se pode sabê-lo por este modo, mas também por outro, como quando, falando ou cantando, emitimos som mais forte mediante forte respiração. Também isto acontece ao jogarem-se objetos. Os que são atirados com força se projetam longe, e os sem força, perto. Para os projetados com força, o ar cede mais. Para os outros, menos. Ora, acontece o mesmo com os tons: emitido o som com forte expiração, o tom soa forte e agudamente. Com expiração fraca, ele soa fraco e grave. Constata-se isto também na seguinte prova, de muito valor: o mesmo homem emitindo um som alto, pode ser ouvido ao longe, e o emitindo baixo não o é nem de perto. Semelhantemente, acontece com as flautas, - o ar lançado aos orifícios perto da boca, emite um som mais agudo, por causa da maior força; aquele lançado aos orifícios mais distantes, um som mais grave. Evidencia-se, pois, que o movimento rápido produz som agudo, e o mais lento, som grave. Também acontece o mesmo com os instrumentos de ruído, movidos durante as cerimônias dos mistérios. Quando movidos lentamente, produzem som grave; fortemente, som agudo. O mesmo acontece com a flauta. Se se fechar a parte inferior, o assoprar produz som grave; mas se na parte média, ou noutro lugar, o som será agudo. O mesmo ar passa fracamente no espaço longo e forte no espaço curto" (frag. 1, de Árquitas de Tarento, em Porfirio, Harmonia de Ptolomeu, p. 56). O texto se alonga ainda sobre a análise do movimento, para finalmente repetir a conclusão: "Os sons agudos se movem rapidamente, os graves mais lentamente, por muitos exemplos" (Idem). A Matéria e o Espírito - O espírito como pneuma. Os conceitos de finito e de infinito dos pitagóricos contêm algumas curiosidades, porque eles são os mais significativos contrários de suas doutrinas sobre o ente. O finito está situado no centro. Ele constitui o mundo sublunar e o cosmos. O infinito é o vazio sem fim – o vácuo, onde subsiste contudo algo não de todo definível, - o caos. Ali se encontra a respiração, que é o espírito, ainda que não como a materialidade sublunar. O espírito como matéria muito especial. Apesar de tudo, o espírito é material, ainda que diferente da matéria corporal. Esta espécie de espírito, concebido como matéria totalmente diversa, se reencontra depois nos círculos neoplatônicos, e mesmo na filosofia neoplatônica cristã, por exemplo, de Agostinho de Hipona. Para estes filósofos a alma é uma composição muito especial de matéria e forma, ou seja de uma matéria diferente daquela dos corpos. Este modo de pensar tem na base o princípio que toda a criatura, inclusive a alma, deva ser necessariamente material. Somente seria peculiar a Deus o ser exclusivamente espiritual. Inversamente, Aristóteles e depois o cristão Tomás de Aquino defenderão que a alma essencialmente é somente forma, sem qualquer matéria. Mas esta forma se une em composição substancial com o corpo material, para constituir o ser humano. Neste caso, o espírito continua exclusivamente espiritual, embora assuma o corpo sob seu substancial poder. No pitagorismo e platonismo a alma não precisa ser a forma do corpo, cabendo-lhe simplesmente morar nele, como um espectro na máquina, ou como o piloto no navio. Dualismo radical de corpo e espírito. Para os pitagóricos, a essência da alma é totalmente diversa do corpo, conforme a doutrina dos contrários entre si irredutíveis e portanto intrinsecamente insociáveis. Este é um dualismo radical, típico do orfismo oriental, em que a convivência é apenas exterior, podendo mesmo ser considerado um acontecimento punitivo. "Testemunham também os antigos teólogos e adivinhos, que por punição, a alma está ligada ao corpo, no qual está sepultada como num túmulo" (Frag. 14 de Filolau de Crotona, em Clemente de Alexandria, Strômata, III, 17). Platão herdará a doutrina radical dos pitagóricos sobre a alma, porque também para ele alma e corpo são substâncias totalmente distintas e separadas, como o piloto e o navio pilotado. Ainda como os pitagóricos, admitiu Platão a preexistência da alma. Esta colocação deixa clara sua concepção do espírito como distinta do corpo. O dualismo pitagórico apoia sua tese na consideração de que o intelecto e a vontade não podem simplesmente ser funções do corpo. Na verdade, importa haver uma proporção de causa e efeito. Então se o corpo for concebido apenas como matéria corporal, não pode senão produzir efeitos corporais (ditos ordinariamente mecânicos, ou físicos). Aliás, no ponto de vista aristotélico também ocorre um dualismo, ainda que moderado, por uma união mais íntima, de composição substancial. As funções corpóreas continuam do corpo, as psíquicas da alma. No dualismo de Aristóteles também é possível conceber a alma como separada, ainda que incompleta, porquanto sua função natural é ser forma substancial do corpo. Não obstante é essencialmente distinta do corpo, porquanto é uma forma substancial. Disse mesmo Aristóteles que a alma vem ao corpo, como que por uma porta. O monismo propriamente dito, - contrário tanto ao pitagorismo e platonismo, e mesmo ao aristotelismo, - reduz corpo e alma a duas faces da mesma coisa. Neste reducionismo se salva a proporcionalidade entre causa e efeito de todas as funções, quer do corpo, quer da alma, porque a mesma coisa é corpo e alma. Colocadas as considerações acima, resta bem clara a posição pitagórica, como de um dualismo de elementos bem diferenciados, de certo modo opostos e mesmo adversários entre si. Tudo é desenvolvido dentro do clima da oposição hostil entre matéria e espírito. A alma como um mover-se por si. Além de se lhe atribuir o conhecer e o querer, a alma é definida pelos pitagóricos como aquilo que se move por si, e em consequência como sendo princípio do movimento dos corpos. "Ele [Álcmeon] disse também, que a alma é imortal e se move sem cessar como o Sol" (D. Laércio, VIII, 82). Ter capacidade de se mover por si e de mover o corpo, é uma atribuição generalizada que quase todos os antigos fazem à alma, sobretudo os pitagóricos e platônicos. Que sentido tem, dizer que a alma se move por si mesma? Mover-se está entendido aqui como movimento mecânico. Aristóteles já dirá o contrário, que a alma é imóvel, todavia capaz de mover a outros. E porque atribuir à alma a capacidade de mover a outros? Defendeu Aristóteles que Deus é motor imóvel, que ao mesmo tempo é o primeiro motor de tudo o mais (Física, VIII, 5). Depois, em outro livro, ele asseverou sobre a alma "Sem dúvida, não só é falso conceber a substância da alma como movente, mas também é de todo impossível que o movimento pertence à alma" (Arist., Da alma I, 3. 406a 1). De início já fizera Aristóteles uma exposição histórica: "O ponto de partida de nosso estudo consiste na exposição das características pertencentes – segundo as opiniões em geral – à alma em decorrência de sua natureza. A alma se diferencia do não animado, por duas características principais: o movimento e o sentir. Estes são dois conceitos que ao antepassados transmitiram a nós sobre a alma. Certos entre eles dizem que a alma é por excelência e primordialmente o motor. E, no pensamento de que o que é móvel por si mesmo é incapaz de mover uma outra coisa, acreditaram que a alma pertence à classe das coisas em movimento. Dali vem que Demócrito assevera que a alma é uma espécie de fogo e calor" (Arist., Da alma, I, 2. 403b 23-32). Depois de expor os detalhes da teoria atomista de Demócrito, continuou Aristóteles: "Parece também que a doutrina dos pitagóricos apresenta a mesma significação. Com efeito, alguns entre eles declararam que a alma é o pó que se agita no ar, outros que é aquilo que o move. Advertem que este pó está em contínuo movimento, mesmo quando ocorre a completa calma" (Arist., Da alma I, 2. 404a 17-20). Continua Aristóteles, com velada referência (no entender do seu comentarista Filopono, 71,6) a Platão, Xenócrates e Álcmeon: "A mesma tendência é aquela dos que definem a alma como sendo o que por si se move. Pensam todos eles, com efeito, que o movimento é o caráter mais próprio da alma, e que toda a coisa é movida pela alma, e que ela se move por si mesma. A razão é que não se vê nenhum motor que não seja ele mesmo móvel" (Da alma, 404a 21-25). Avançou ainda mais Aristóteles: "Também Heráclito tomou a alma como princípio, porque ela é evaporação, de que os outros seres se compõem. Ele acrescenta que este princípio é o mais imaterial, e que ele eternamente flui. De outra parte, que o movido é conhecido pelo movente, porque por ele e a maioria dos filósofos, todos os seres estão em movimento. Parece que esta é a opinião de Álcmeon [pitagórico] sobre a alma. Ele aliás quer, que ela é imortal por causa de sua semelhança com as coisas imortais, e que estas coisas semelhantes sempre se movem, a Lua, o Sol, os astros e o céu inteiro" (Arist., Da alma I, 2. 405a 25-33). As relações entre alma e corpo não foram claramente explicadas pelos pitagóricos. Como poderia uma alma especificamente distinta alojar-se em um corpo tão diverso? E por que motivo entraria a alma em algo tão alheio à sua natureza? Além disto, como poderia a alma transferir ao corpo o movimento? Tais questões, continuarão a ser um debate em toda a filosofia futura, e vão ser motivo para tendências menos dualistas, sem que os dualistas deixem também de ter seus defensores. Aristóteles, critica o conceito de alma como motor do corpo, e adverte inclusive para o que de futuro se denominará antitipia (vd), propriedade que cada ser tem de resistir à penetração de outro. "Eis ainda um absurdo decorrente desta doutrina, encontrada na maioria dos que tratam da alma, porquanto eles unem a alma e o corpo, sem esclarecer a razão desta união, nem como o corpo se comporta. A explicação contudo é necessária. Não basta a coexistência, por que um seja ativo e o outro passivo, para que um seja movido e outro movente. Nenhuma destas relações pertence às coisas por acaso. Estes filósofos somente se esforçam por explicar a natureza da alma, mas no que concerne ao corpo que a recebe, nada apresentam, como se fosse possível que qualquer alma, segundo os mitos pitagóricos, penetrar um corpo qualquer. [É absurdo], porque cada corpo tem sua forma e uma figura própria" (Arist., Da alma, I, 3. 407b 15-23). De uma parte, Aristóteles tentou solucionar a união de corpo e alma por meio da teoria de matéria e forma, em que a alma seria a forma do corpo material. E como o teria provado o mesmo Aristóteles? De outra parte, os pitagóricos e os platônicos conceberam a alma como espécie de matéria, ainda que de diversa espécie de matéria. De acordo com estas concepção, as relações entre corpo e alma não seriam tão difíceis, ainda que não sem suficiente explicação. Em favor da união pitagórica de alma e corpo está a teoria dos contrários, que se harmonizam entre si (vd). Se corpo e espírito são contrários, eles podem efetivamente se complementar e se harmonizar. A teoria da alma como harmonia, da qual tratou Aristóteles sem mencionar os seus autores, é possivelmente de alguns pitagóricos. O mesmo Aristóteles se refere à mesma em continuidade a sua crítica anterior, aos mitos pitagóricos. "Mas uma outra opinião nos foi transferida a respeito da alma, opinião que, para muitos filósofos, não é menos convincente que as que já temos indicado... Seus partidários, com efeito dizem que a alma é uma espécie de harmonia, porquanto (para eles) a harmonia é uma fusão e uma composição de contrários, e o corpo é composto de contrários" (Arist. Da alma,I, 4. 407b 30). Encontra-se mais, em outro livro: "Por natureza, a música se acha entre as coisas muito doces. Há, em nós, uma afinidade com as harmonias e os números, ao que parece. Efetivamente, muitos filósofos dizem unânimes, que a alma é uma harmonia. Outros dizem que tem uma harmonia" (Arist.,Política, 8, 5. 1340b). De acordo com esta alma-harmonia, a alma não seria um ser especial. Por exemplo, ela não seria forma do corpo ao modo da teoria aristotélica de forma. Ela seria uma situação resultante da harmonia de elementos contrários, assim como a saúde é o equilíbrio das funções corporais. Eis a crítica de Aristóteles: "Mas a harmonia é uma certa proporção de coisas misturadas, e a alma não pode ser, nem uma e nem outra coisas. Além disto, o mover não depende da harmonia, mas da alma, a que todos os filósofos, por assim dizer, a assinam como caráter principal. É à saúde, e dum maneira geral, às virtudes corporais que convém denominar harmonia, mais que à alma" (Arist., Da alma, 408a 1-4). A metempsicose e a transmigração das almas é doutrina adotada desde o início pelo pitagorismo, podendo ter tido sua origem no orfismo. De acordo com os pitagóricos, as almas procedem da região exterior da espera, ou seja do infinito, do éter. "O que [Pitágoras] dizia aos seus discípulos, não se conhece com segurança, em vista do silêncio praticado entre eles. Fizeram-se conhecer especialmente as seguintes doutrinas: 1) a afirmação da imortalidade da alma; 2) sua transmigração de uma para outra espécie animal; 3) dentro de certos períodos retornam os mesmos acontecimentos, de sorte que nada existe absolutamente novo; 4) todos os seres vivos são parentes entre si. Na Grécia tais crenças parece que foram introduzidas pela primeira vez por Pitágoras" (Dicearco, em Porfirio, Vida de Pitágoras, 19). Curiosas versões dão conta das reencarnações do mesmo Pitágoras. Ainda que o próprio texto mereça reparos, ele reproduz pelo menos as crenças de então: "Eis aqui, segundo Heráclides do Ponto, o que ele mesmo contou de si mesmo: "Havia sido antigamente Etálides, filho de Hermes; havendo prometido Hermes conceder-lhe tudo, com exceção da imortalidade, havia pedido conservar, durante toda sua vida e depois de sua morte, a memória de suas experiências; e, efetivamente, vivo e morto havia conservado a recordação de todas as coisas. Havia passado em seguida ao corpo de Euforbo e havia sido ferido por Menelau; sendo Euforbo, dizia que ele em outro tempo havia sido Etálides, que Hermes lhe havia dado consciência das transmigrações de sua alma, e que recordava em que plantas, em que animais havia estado sucessivamente, o que havia experimentado nos infernos, o que havia visto sofrer a outros. Depois da morte de Euforbo, sua alma passou ao corpo de Hermótimo. Este, querendo verificar que houvera estado no corpo de Eurforbo, foi ao templo de Apolo, junto aos Brânquidas [sacerdotes de Apolo Didimeu, na cidade jônica de Posideu] e, entrando no templo de Apolo, identificou o escudo de Menelau, que este dedicara a Apolo. Menelau, quando voltara de Tróia dedicou a Apolo seu escudo, agora podre, dele restando apenas a placa. Morto Hermótimo, passou a Pirro, pescador de Delos, e, conservada a recordação exata do passado, se lembrava então de haver sido primeiro Etálides, depois Euforbo, a seguir Hermótimo, e por último Pirro. Depois da morte de Pirro, veio a ser Pitágoras, havendo conservado as mesmas recordações" (D. Laércio, VIII, 4-5-6). Ainda sobre a metempsicose: "Pitágoras proibia matar os animais e com mais razão comer sua carne. Dava como razão disto, que eles tinham uma alma como a nossa e direitos iguais aos nossos, Não era senão um pretexto. Em realidade, ele proibia o uso do que havia tido vida, com uma finalidade diferente: acreditava que os homens, acostumados a uma alimentação delicada, comendo a estes alimentos com moderação e bebendo água pura, poderiam por isso mesmo atender mais facilmente à suas necessidade. Acreditava também que este gênero de vida era útil à saúde corporal e ao vigor do espírito". O único altar em que ele oferecia sacrifício era o de Apolo gerador, em Delos, atrás do altar de Asta, porque ali somente se oferecia trigo, tortas não cozidas, e que naquele lugar não se imolavam vítimas, como testemunha Aristóteles, em Governo de Delos. Foi o primeiro a ensinar, dizem, que a alma percorre, por uma espécie de necessidade, uma espécie de círculo" (D. Laércio, VIII, 13-14). Um pouco mais a frente: "Excitou Pitágoras tal admiração que seus discípulos acreditavam sinceramente que todos os deuses vinham conversar com ele. Manifestou ele mesmo em seus escritos que passou duzentos e sete anos nos infernos, antes de vir a viver entre os homens" (D. L., VIII, 14). A imortalidade da alma, no sentido de espírito separado do corpo material, é crença universal das religiões dualistas. Acrescenta-se o detalhe de "espírito separado". É que no monismo também nada morre. Todavia no dualismo a imortalidade não é tão clara, devendo ser expressamente provada. Esta costuma fazer-se em torno da metempsicose, e, quando não admitida esta, pelo menos em torno da espiritualidade. Mas é comum admitir-se no dualismo, - ainda que não na doutrina da transmigração, - que é mortal o princípio vital (ou alma) dos animais e plantas. "Nenhuma alma [segundo Pitágoras] morre, nem cessa, senão durante o tempo de transmigração de uma em outra vida" (Sêneca, Epístola 108 nr. 19). "O discurso de Pitágoras merece crédito – às almas dos homens restou serem imortais, revivendo de novo alguns anos em outro corpo" (Diodoro V, 28 Schl.). Vários cristãos dos primeiros séculos mantinham a mesma crença dos pitagóricos sobre a preexistência das almas. O retorno cíclico dos acontecimentos foi uma convicção de muitos, principalmente dos pitagóricos. Hoje se fala sobre a evolução, que não é senão uma repetição cíclica. Algumas religiões crêem sobre a repetição da vida presente em forma de vida feliz no céu. Esta sobrevivência não é todavia evolutiva, e sim escatológica de encerramento. "Pode-se ficar em dúvida, sobre se o tempo renasce, conforme o dizer de uns, ou não, conforme o de outros. Segundo os pitagóricos, como inúmeros outros repetem, também eu voltarei falando, com esta varinha na mão, e vós de novo sentados como agora; e todas as outras coisas acontecerão igualmente, como se o tempo fosse o mesmo..." (Eudemo, Física, II, 3, Frag. 51, em Simplicio, Fiziko 732, 26). A Ética - Pitágoras atuou principalmente como reformista moral e político. Mas, para esta atuação partiu de princípios teóricos, os quais eram definidos ao menos em sentenças de ordem geral, representando um sistema global de idéias, ainda que não inteiramente acabado. Ordinariamente, os criadores de religiões, como Confúcio, Buda, Zaratustra, Moisés, Paulo, Mahomé, não chegaram a sistematizações englobantes, mas todos possuem uma linha central de pensamento, que se manifestam em sentenças de sabedoria, com imagens brilhantes. Com referência à Pitágoras, suas doutrinas morais fizeram-se conhecidas pela informação de terceiros, não havendo ele mesmo escrito, conforme parece. Ainda que as outras doutrinas de Pitágoras houvessem ganho maior desenvolvimento com os discípulos, o que mais parece contudo pertencer a Pitágoras pessoalmente é sua doutrina moral. Neste sentido o que de valioso restou são os assim chamados Versos de Ouro. Como coleção ordenada, os Versos de ouro datam do séc. III d.e.c., e representam a fixação definitiva de dizeres, que vinham oralmente atravessando os tempos desde o séc. V a.e.c.. Em fragmentos diversos já vinham sendo fixados, no curso dos séculos, e outros ainda restaram por se fixar depois (vd D. Laércio VIII, 17; VIII, 23). Não fosse esta fixação da ética pitagórica, ela ter-se-ia depois perdido inteiramente, porque a comunidade pitagórica foi progressivamente substituída pela cristã. Como anteriormente se houvera perseguido aos cristãos, estes passaram depois a perseguir aos pitagóricos. Conforme o espírito geral do pitagorismo, - a harmonia dos contrários, - a norma ética que o caracterizou foi a moderação. Diz um dos Versos de ouro: "Não seja avaro. Em tudo o preferido é a justa medida" (verso 38). A culpa original anterior ao nascimento, como já acreditavam as religiões orientais em geral, faz parte também do pitagorismo. Como punição, os espíritos são introduzidos em um corpo humano, no qual se purificam pelo sofrimento. Que o sofrimento purifica, eis outra convicção pitagórica e que faz parte da herança de todas as religiões antigas, mas principalmente das que acreditam na ocorrência de um pecado original. Ainda que não haja como provar uma relação direta entre o sofrimento e a purificação, o sofrimento pode contudo advertir contra aquilo que o causa. Este fato produz a incompreensão, que o sofrimento purifica. Efetivamente, devemos sempre aspirar a felicidade, e não o sofrimento, nem sequer para a purificação. Os ritos de purificação também caracterizam as práticas pitagóricas, como aliás também às religiões orientais em geral, inclusive o cristianismo. "Diz-se que [Pitágoras] recomendava a seus discípulos, que examinassem a sua consciência, quando regressavam às suas casas, com as seguintes perguntas: - Que omiti eu? - Que fiz? - Que deveres deixei de cumprir?" (D. Laércio, VIII,22). Com referencia à purificação havia as coisas de que se devia fazer a abstenção, porque maculavam pela sua impureza, e as coisas que se praticavam como rito purificador. Os mistérios, cujo equivalente latino é sacramentos, consistiam em cerimônias, não apenas simbólicas, mas consideradas eficazes espiritualmente. O termo grego:(= mistério, cerimônia religiosa secreta) deriva do verbo: (= fechar, estar com a boca e os olhos fechados). Dali também deriva o adjetivo: (= místico, relativo aos mistérios). O correspondente termo latino sacramentum, derivado de sacrum (= santo, sagrado) é mais genérico, podendo mesmo significar juramento. Mas, em qualquer de suas acepções, é sempre uma cerimonia ritual. O mais significativo dos mistérios praticado pelos pitagóricos era o batismo. Outro, bastante destacado, era o da unção do óleo aos doentes, ou extrema unção. Como se sabe, ambos estes mistérios ou sacramentos subsistem entre os cristãos, e antes deles, no próprio meio judaico, já eram praticados pelos essênios. Em sentido análogo, as religiões antigas praticavam a purificação pela aspersão pelo sangue. Autores cristãos falam mesmo da purificação pelo sangue de Jesus Cristo morto na cruz. Há pois todo um contexto semântico atrás dos mistérios da crença antiga, e que hoje mal se sente nos textos que a eles se referem. "... Acrescenta [Pitágoras] que não se devem tributar iguais honras aos deuses e aos heróis, que é preciso em qualquer tempo cantar loas aos Deuses com vestes brancas e depois de purificar-se e que basta honrar aos heróis uma vez no dia; que a purificação se alcança com expiações, abluções, aspersões, evitando as exéquias e os prazeres do amor, preservando-se de toda mancha, abstendo-se, em fim, da carne dos animais mortos por eles mesmos, de algumas espécies de peixes, melões, ovos, animais ovíparos, favas e de tudo aquilo que proíbem os que presidem os sacrifícios dos templo. Diz Aristóteles no tratado sobre as Favas, que ele proibia o uso das mesmas, já porque se parecem com as partes vergonhosas, ou também às portas do inferno, porque é o único legume cujo desenvolvimento não tem nós, e ainda porque secam às outras plantas, porque representam a natureza universal, porque finalmente também se empregam para as eleições nos governos oligárquicos. Proíbe comer o que cai da mesa, para habituar-se a comer com moderação, ou ainda porque isto está destinado aos mortos. O que cai da mesa é para os heróis, segundo Aristóteles; porque ele disse em Heróis: Não saboreai o que cai da mesa! Proibia comer galos brancos, porque estão consagrados ao Deus Mene [do mês] e servem para as preces e as cerimônias, nas quais somente se utilizam animais considerados bons e puros. Estão consagrados a Mene, porque anunciam as horas. Proibia também os pescados consagrados aos deuses, sob o pretexto de que não convém servir os mesmos alimentos aos deuses e aos homens, o mesmo que não se dão idênticos alimentos aos homens livre, que aos escravos. Declara que o branco é símbolo do bem e o negro do mal" (D. Laércio, VIII, 31-32). A educação intelectualizante caracterizou o pitagorismo. Apesar do fundo moral do grupo, nascido sob influencia religiosa oriental, ele derivou para a teorização do que praticava, gerando uma filosofia, e até uma ciência experimental. O saber se torna mesmo purificador. A tendência dos grupos religiosos é a prática meramente ascética, no sentido do desenvolvimento da virtude moral. As comunidades religiosas surgiram no oriente, e só tardiamente passaram ao Ocidente, onde os pitagóricos são um primeiro sinal. Também os cristãos, ao estabelecerem comunidades religiosas no Ocidente, já as tinham no Oriente. Contudo, mesmo no Oriente e no Egito os sacerdotes, - nem sempre constituindo comunidades, - desenvolveram a escrita. Como se sabe, a complicação crescente dos ritos e das doutrinas religiosas estimulavam a isto. Mas o desenvolvimento desta prática não tinha por objetivo a ciência em si mesma, e sim os objetivos religiosos. Não obstante, uma religião perfeita reclama como pressuposto uma boa filosofia. E foi assim que, finalmente, os grupos religiosos acabaram por desenvolver também este campo do saber humano. Neste contexto, vieram a ser os pitagóricos os primeiros a darem à educação uma diretriz intelectualista. Apesar de conservarem muito do saber meramente sentencioso das religiões, ingressaram cedo para a sistemática do saber, tomado agora como um dos objetivos da educação e formação religiosa em geral. Os pitagóricos que participam dos diálogos platônicos abordam efetivamente assuntos de ordem moral à base de justificativas filosóficas sistemáticas. De acordo com uma versão famosa, não de todo certa, Pitágoras chamou modestamente a si mesmo defilósofo, no sentido grego de amigo da sabedoria. "Assevera Sosícrates, em Sucessões, que Leonte, tirano de Flionte [do Peloponeso], lhe perguntou, quem era ele?, e este [Pitágoras] lhe respondeu, - filósofo, - e que, comparando a vida a uma reunião pública, acrescentou, o mesmo que em uma feira, uns vão para lutar, outros para comerciar, e finalmente outros para ver e examinar. Também na vida uns são escravos da glória, outros ambicionam riqueza; porém o filósofo somente busca a verdade. Tal é o testemunho de Sosícrates" (D. Laércio, VIII, 9). Sobre o desenvolvimento da instrução, Árquitas de Tarento enuncia o ideal, que é o de todos os pitagóricos: "Para aprender o que não sabemos, devemos aprende-lo junto aos outros, ou por investigação própria. Com referência ao que se aprende, isto vem de outros e auxílio alheio. Com referencia à investigação, a fazemos nós mesmos e com meios próprios. Achar sem investigar é difícil e raro. É fácil aprender, investigando. Todavia é impossível, se não se souber como investigar" (Frag. 3, de Árquitas, em Estobeu, Antologia, IV, 1,132). Até aqui Árquitas destacou o conhecimento e o método de o adquirir. Continua ressaltando o rendimento social que o conhecimento oferece: "Encontrada a razão, cessa a rebelião e aumenta a concórdia. Não é possível competição quando a razão existe e reina a igualdade. Por seu intermédio, os pobres recebem os poderosos, os ricos dão aos necessitados, ambos confiados nela de que receberão o justo. Regra e obstáculo para os injustos, ela obriga à desistência aqueles que sabem refletir antes de operarem a injustiça, persuadindo-os a não serem omissos; aos que não sabem, revela-lhes a sua injustiça no momento de a cometerem, impedindo-os de a praticar" (Frag. 3, de Árquitas, Harmonia). Sobre os costumes morais, a doutrina pitagórica é rígida, já desde o comportamento pessoal. Com referência ao amor, se expressa [Pitágoras] do modo seguinte: O inverno se pode consagrar ao amor; o verão, jamais; o outono e a primavera, o uso é menos fatigante; em todas as ocasiões, todavia, ele enerva e mata a saúde. Perguntado sobre a época em que se deve ceder a este sentimento, ele respondeu: "Quando vos sentirdes demasiado fortes" (D. Laércio, VIII, 10). Moderação nas comidas e bebidas, eis conselho frequente de Pitágoras, não raro de mistura com tabus populares. Lê-se emVersos de Ouro: "Não deves descuidar da saúde de teu corpo" (verso 32); "Antes com medida conceder-lhe a bebida, o alimento e o exercício" (verso 33); "E chamo medida àquilo que jamais possa prejudicar-te" (verso 34). Principais Fragmentos - Versos de Ouro 1. Honra antes que nada aos Deuses imortais, na ordem que lhes foi assinalada pela lei. 2. Respeita o juramento. 3. Honra logo aos heróis glorificados. 4. Venera assim mesmo aos Gênios terrestres, cumprindo tudo aquilo que é conforme às leis. 5. Honra também a teu pai e a tua mãe e ateus parentes próximos. 6. Entre os demais homens, toma por amigo aquele que se destaca na virtude. 7. Cede sempre às palavras de brandura e às atividades salutares. 8. Não chegues nunca, por uma culpa leve, a aborrecer a teu amigo; 9. Quando isto te for possível; porque o possível reside próximo do necessário. 10. Saiba que estas coisas são assim, e acostuma-te a dominar estas outras: 11. A gula primeiramente, e o sonho, a luxúria e o arrebatamento. 12. Jamais cometas ação alguma de que possas envergonhar-te; nem com outro, 13. Nem tu particularmente. E, mais que nada, respeita-te a ti mesmo. 14. Pratica logo a justiça em atos e em palavras. 15. Não te acostumes a proceder sem reflexão em coisa alguma, por pequena que esta seja. 16. Mas recorda que todos os homens estão destinados a morrer; 17. E chega a saber por igual adquirir e perder os bens da fortuna. 18. A respeito de todos os males que tem de sofrer os homens por obras dos augusto fados do Destino, 19. Aceita-os como sorte que tens merecido; sobreleva-os com mansidão e não te molestes por isso. 20. Convém te pôr-lhes remédio, na medida que esteja em tuas mãos fazê-lo. Mas pensa bem nisto: 21. Que o Destino evita às gentes de bem a maior parte destes males. 22. Multidão de discursos, mesquinhos ou generosos, caem ante os homens; 23. Não os acolhas com admiração, mas tão pouco te permitas desviar-te deles. 24. Porém se te advertes que dizem algo de falso, sobreleva-o com paciência e mansidão. 25. Quanto ao que te vou dizer, observa-o em toda a circunstancia: 26. Jamais alguém, nem com suas palavras nem com sua ações, possa induzir-te a que profiras ou faças coisa alguma que para ti não seja útil. 27. Reflita antes de agir, para que não leves a cabo coisas insensatas. 28. Já que é próprio dos desditados proferir ou fazer coisas insensatas. 29. Não faças nunca, portanto, coisa alguma de que possas ter depois lugar a te afligir. 30. Jamais empreendas coisa que não conheças; senão deverás aprender. 31. Tudo aquilo que é preciso que saibas, com o que viverás a mais ditosa vida. 32. Não deves descurar da saúde de teu corpo, 33. Antes com medida conceder-lhe a bebida, o alimento, o exercício; 34. E chamo medida a aquilo que jamais possa prejudicar-te. 35. Acostuma-te a uma existência decorosa, singela, 36. E guarda-te de fazer tudo aquilo que possa atrair-te invejas. 37. Não faças gastos inúteis, como fazem os que ignoram em que consiste o formoso. 38. Tão pouco sejas avaro: excelente é em tudo a justa medida. 39. Jamais tomes a teu cargo empresa que possa prejudicar-te, e reflita antes de obrar. 40. Não permitas ao doce sonho que se deslize sob teus olhos, 41. Antes que hajas examinado cada uma das ações de tua jornada. 42. Em que falte? Que fiz? Que omiti do que deveria fazer? 43. Principia a recorrer tuas ações pela primeira de todas, e logo se achares haver cometido culpas, admoesta-te; mas, se houveres agido bem, regozija-te. 44. Esforça-te para pôr em prática estes preceitos, medita-os; é preciso que ponhas amor neles. 45. E eles te porão sobre a pista da virtude divina; 46. Juro-te por aquele que transmitiu à nossa alma o sagrado quaternário, 47. Fonte da Natureza cujo curso é eterno. 48. Não comeces a tomar sobre ti nenhuma empresa 49. Sem pedir aos Deuses que a terminem bem. 50. Quando todos estes preceitos te forem familiares 51. Conhecerás a constituição dos Deuses imortais e dos homens mortais; saberás 52. Até que ponto diferem entre si as coisas e até que ponto se reúnem. 53. Conhecerás, assim mesmo, na medida da justiça, que a Natureza é em tudo semelhante a si mesma; 54. De sorte que não esperarás o inesperado, e nada estará já oculto para ti. 55. Saberás igualmente que os homens escolhem por si mesmos e livremente os males; 56. Míseros, deles!, não sabem ver nem entender os bens que têm junto de si. 57. Pouco numerosos são os que aprenderam a libertar-se de seus males. 58. Rolam de cá para lá, oprimidos por inúmeros males. 59. Inata neles, a aflitiva Discórdia os acompanha e danifica sem que eles o vejam; 60. Não devemos provocá-la, senão fugir dela, cedendo. 61. Oh Zeus, pai nosso, a todos os homens livrarias dos numerosos males que os oprimem, 62. Se fizesses ver a todos de que Gênio se servem! 63. Mas tu, cobra ânimo, pois que sabes que a raça dos homens é divina 64. E que a sagrada Natureza lhes revela francamente as coisas todas. 65. Se a ti te as descobre, conseguirás quanto te é prescrito: 66. Havendo curado tua alma, a libertarás desses males. 67. Mas abstém-te dos alimentos de que falamos, aplicando teu juízo 68. A tudo aquilo que possa servir para purificar e libertar tua alma. Reflita sobre esta coisa, 69. Tomando por guia à excelente Inteligência do alto. 70. E se, depois de haver abandonado teu corpo, chegas ao livre éter, 71. Serás Deus imortal, incorruptível, e para sempre emancipado da morte.